sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Colóquio digital





A - Vou colocar esta frase porque me toca, só isso. Não me preocupo em agradar, parecer inteligente, requintada. A frase nem é minha. Tirei de Clarice Lispector, no Facebook, pois nem tenho livros dela. Nunca li. Mas agora os textos de Clarice estão bastante em uso e apenas sigo a onda. Escrevo a mesma coisa. Ninguém curte. Eu não ligo.

B – Não sou assim. Gosto de certa solenidade. Posso até postar um inocente prelúdio, mas o público-alvo vai pensar: “ele deve ter sentimentos sofisticados”, e fica explorando qual ocorrido teria provocado tamanha inquietação em minh’alma. Ainda estou em dúvida se é assim ou é mania de grandeza. Tem tudo para ser mania de grandeza.

C- Ter um bom conceito de si próprio não é o problema. No seu caso, porém, há exageros. Ninguém está particularmente interessado em sua vida. As pessoas são parecidas, muitas iguais a você, desesperadas por alguma exibição. Não fujo à regra.

A – É só a velha auto-estima masculina, oscilando, sempre, de oito a oitenta. Estamos aqui para diagnósticos, não é isso? Pois bem, segue o meu: não quero alteração no cotidiano. Entro em pânico diante de qualquer controvérsia, polêmica ou crítica. Daí a postagem de textos neutros, etéreos e já testado por outros. É como o medo de pecar. Não consigo deixar de ser católica.

B – Pois é. A rede também parece uma igreja. Uns vêm aqui para contar pecados, ilustrados com fotos; outros despejam suas ilusões, medos e angústias. Meu caso. Todo dia presto contas das minhas ações. Sou praticante. Não do catolicismo, claro.  

A – Também acho. Mas não escreveria isso. Pode aparecer um especialista em Social Media para refutar meus argumentos e eu não tenho argumentos. É só uma impressão.

C – Pode se uma igreja, um clube, um vício, o retiro de uma civilização aposentada; pode ser tudo. Mas essencialmente é uma exposição de vaidades. Não desgosto. Até vejo sinceridade em posts que anunciam um belo jantar em casa ou a compra de um novo I-pad. Assim vivíamos na sociedade real; assim vivemos aqui, propagando vantagens e mentindo um pouco.

D – Só escrevo se tiver uma grande sacada. Passo o dia atrás de frases de efeito. Só penso nisso. Sou tão dependente quanto vocês. Já lancei uma pequena coletânea. Pena não ser pago por meu conteúdo. A vantagem é não ter patrões. A desvantagem é não ter dinheiro.

A- Na verdade, meu maior medo é parecer louca. Tanta doidice escrita por aí. Olho pra uma pessoa e digo: “essa precisa ser internada”. É cada opinião absurda. Estar aqui, por exemplo, me deixa aterrorizada, pensando se não é uma insanidade. Só topei participar porque disseram que não iria ser publicado. 

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