O
pelotão de fuzilamento está a postos para a primeira execução do novo governo.
Há um clima de festa na plateia e os telespectadores também poderão acompanhar
o evento transmitido em cadeia nacional. Desde 1876, há 142 anos, não víamos
uma morte pública, demandada pelo Estado, quando o negro Francisco foi
enforcado no município de Pilar, em Alagoas. Agora, o método é outro. Belos
fuzis importados abaterão o traidor da pátria e da família, um sujeito
assustado e baixinho, acusado de escrever impropérios contra o governo. O povo
apoia, é o que interessa, disse o novo presidente a uma imprensa já preparada
para o espetáculo. Os patrocinadores são uma empresa de cosméticos e um banco.
Durante
a semana, em chamadas regulares, a TV anunciou o fuzilamento com certa
sobriedade. Mas aos poucos surgiram vinhetas mais animadas, como nos anúncios
sobre futebol e Formula-1, pois a audiência tem sido acima do esperado. Nos
telejornais, matérias com a família e amigos do futuro morto que, apesar de
tristeza, viam na medida governamental uma forma inovadora de conduzir o país
dentro de padrões de respeito à autoridade e preservação dos bons costumes. Não
dava para ficar do jeito que estava, observou a mãe do réu, eleitora
entusiasmada do regime recém-inaugurado. Numa demonstração de patriotismo, ela
não chorou.