Aos poucos o tuiteiro mais observador começa a formar o perfil de seus seguidores e seguidos. Pessoas escancaram a vida, contam o que fazem naquele exato momento, se queixam, dão opiniões políticas, mostram predileções culturais, comentam o BBB, sugerem filmes, postam links obscuros, inventam novas línguas e muitos deles mentem.
A que me refiro é mentirosa, culta e pobre. Há muita gente assim. Leu Proust, mas não conhece Paris. Tem emprego ruim, mal sobrevive, mas improvisaria bem como consultora de comunicação ou algo do gênero. Deu azar ou teve preguiça. Também poderia ser publicitária ou jornalista.
Marginal na vida, um pouco feia, se esconde de eventos sociais, mesmo bocas livres, para não esbarrar em algum de seus 1.728 seguidores. Todos eles crentes de sua vida glamorosa. Também não pode aparecer tanto por ai porque vive viajando de mentira. Seu último post foi do Estreito de Bósforo. Observações interessantes sobre a vida turca, diretamente da Casa Verde, São Paulo, onde mora com a mãe doente. Também esteve em Davos, por acaso, e passou o dia a discutir os rumos de um planeta multipolar, bipolar ou sem pólo algum.
Retuitadésima, invejada, respeitada, ela faz o gênero acima do bem do mal, mas sem afetação. Não cai nas garras do PT nem exibe qualquer sintoma de tucanismo. Eis o segredo. Outra manha é um avatar simbólico, quase como o “nome” que o cantor Prince adotou durante uns tempos.
Seus interesses estão fora do País. Na semana passada, por exemplo, sua parada foi em Tânger, no Marrocos, onde Paul Bowles passou boa parte de sua vida. Ela parecia o próprio escritor, relacionando a paisagem local com romances, contos e poemas do autor de “The sheltering Sky”. Com invulgar propriedade. Sem nunca ter pisado no Norte da África – ou em qualquer outro lugar do mundo fora São Paulo – descrevia as pessoas e seus costumes com comentários ácidos e elegantes. Antropologia pura, texto na medida e incrível capacidade de reescrever o Google sem que ninguém notasse a origem de seus apontamentos.
Ela mente e mente tão bem que seria um crime revelar sua verdadeira identidade. Reina sobre a Mentira. Mas a mentira cultural, elucidativa, correta nos adjetivos e citações. Uma pessoa, de fato, viajada.
@_lulafalcao
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
No super
-O senhor está sob o efeito de drogas?
- Estou. Tomei um remédio pra labirintite.
- Ah. Desculpe. É que seus olhos estão muito vermelhos e eu pensei...
- Quanto foi?
- R$ 17.80
- Crédito.
- Olha, não foi por mal, viu. Fiquei preocupada com o senhor. Estava zanzando sem destino, passou muito tempo na prateleira de material de limpeza. Ficou lendo as embalagens. O senhor leu umas dez embalagens e não pegou nada lá.
- O que?
- Nada. Estava só falando do seu jeito, desculpe, meio loucão.
- Minha senhora eu tomei um remédio pra labirintite. Pega a nota pra assinar, por favor. Não estou me sentindo muito bem.
- Parece que não. Quer que eu chame alguém?
- Não precisa. Eu moro aqui perto.
- Sabe, fiquei preocupada com o senhor e eu não costumo ficar preocupada assim com as pessoas.
- Obrigado pela preocupação.
- Olha, eu saio às 18h. Talvez a gente...
- Sim?
- Deixa pra lá.
-Por quê?
- Não sei.
- Tchau
- Ei. Minha mãe tem labirintite e o olho dela não fica vermelho assim, não.
- Estou. Tomei um remédio pra labirintite.
- Ah. Desculpe. É que seus olhos estão muito vermelhos e eu pensei...
- Quanto foi?
- R$ 17.80
- Crédito.
- Olha, não foi por mal, viu. Fiquei preocupada com o senhor. Estava zanzando sem destino, passou muito tempo na prateleira de material de limpeza. Ficou lendo as embalagens. O senhor leu umas dez embalagens e não pegou nada lá.
- O que?
- Nada. Estava só falando do seu jeito, desculpe, meio loucão.
- Minha senhora eu tomei um remédio pra labirintite. Pega a nota pra assinar, por favor. Não estou me sentindo muito bem.
- Parece que não. Quer que eu chame alguém?
- Não precisa. Eu moro aqui perto.
- Sabe, fiquei preocupada com o senhor e eu não costumo ficar preocupada assim com as pessoas.
- Obrigado pela preocupação.
- Olha, eu saio às 18h. Talvez a gente...
- Sim?
- Deixa pra lá.
-Por quê?
- Não sei.
- Tchau
- Ei. Minha mãe tem labirintite e o olho dela não fica vermelho assim, não.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
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