Todos
exultaram com o ocorrido, embora desconhecessem detalhes e embora alguns nem
soubessem do que se tratava. Basicamente, sabia-se que uma coisa muito boa iria
mudar a vida das pessoas para sempre e entraria em vigor em dez dias, conforme
determinação de um órgão governamental, cujo nome não conseguiram ouvir
direito. Notícia boa também se espalha e em sua propagação cidade afora esta
ganhou enredo, razões e até textura; histórias que soavam como a vinda do
Messias ou da Era da Prosperidade, dependendo se o beneficiado era religioso ou
não. O certo é que uns também acreditavam saber demais e espalhavam pormenores
pelos meios de comunicação e até análises, gráficos e previsões sobre
possibilidades; nunca sobre um fato em si. A maioria, no entanto, nem chegou perto dos argumentos, muito
menos checou sua veracidade, e saiu para comemorar.
Os
mais ou menos informados se envolveram nessa contaminação de otimismo nunca vista em tempos de guerra e
paz, mas ao contrario dos menos informados queriam saber em que medida a nova
ordem, ou seja lá o que fosse, traria ganhos financeiro e talvez mais
felicidade. Mesmo assim, entraram de cheio na festa. Desconhecidos se abraçavam
sem entender por que estavam tão felizes, mas o importante é que estavam, e
ainda soltavam fogos, soavam buzinas nas ruas, gritavam dos apartamentos. Era
natural a expectativa com o noticiário da noite, capaz de esclarecer
alguns pontos, senão todos, e era
natural tentar descobrir que poderoso motivo levou à tanta exclamação e delírio.
Só que não foi assim, pois a notícia perdeu a força no meio jornalístico e
agora havia dúvida se o fato era verdadeiro ou um boato intrincado, desses que
recebem inúmeras versões até se subdividir em outros, todos igualmente
confusos, apesar de atribuídos a fontes seguras.
Não
adiantou o desmentido das autoridades, tão vago quanto as versões em contrário,
e o assunto, deixado de lado pela imprensa, passou às redes sociais com uma força
insana, como se houvesse um sentimento coletivo de acreditar a todo custo. Enquanto
na TV o assunto já era outro, a notícia provavelmente falsa continuava correndo
cada vez mais veloz porque a própria inquietação do outro parecia sinal
suficiente para seguir-lhe na mesma toada de entusiasmo.
Passou-se
um bom tempo até o boato minguar, mas não de completo, e vez por outra aparecia
uma nota, um comentário, uma conversa dando conta de que, enfim, um novo mundo
estava a caminho, cheio de
recompensas e bonificações, e capaz de nos tirar de uma vida de sacrifícios
e dor, faltando apenas sabermos o que era e por quê.