O
sargento, em seu terceiro ou quarto mandato – já nem lembro mais –, dera-se ao
vício do jogo que ele mesmo legalizara no País. Jogava com seu próprio salário
e às vezes com dinheiro público, numa roda de baralho frequentada pelos mesmos
personagens de sempre, pastores e militares, e alguns ministros de Estado.
Quando perdia, ficava amuado, trancava-se num quartinho do palácio, e deixava a
administração por conta dos filhos, já envelhecidos e ainda infantis. Eles
brigavam entre si, maldiziam o pai, e às vezes decretavam estado de sítio
quando não tinham ideia melhor para conter a onda de crimes praticados por seus
próprios aliados.
Não
havia oposição fora dos presídios, mas os amigos davam tanto trabalho quanto os
antigos desafetos e precisavam de um basta. A exemplo dos comunistas, muitos
foram mortos em emboscadas e solitárias sem pão e água. Quando o presidente
voltava à cena, rezava num templo erguido em intenção da alma do primeiro santo
evangélico, falecido na década passada e autor de milagres comprovados pelo
conselho do reino da república. A imagem do senhor que viveu a maior parte do
tempo no estrangeiro, e ditava o programa de governo, vertia sangue e leite
condensado, dependendo da estação do ano. Ali, no pequeno altar, o chefe do
executivo inspirava-se para retomar as rédeas do poder e conter a família em
eterno conflito.