quarta-feira, 11 de abril de 2018

Fuzis



O pelotão de fuzilamento está a postos para a primeira execução do novo governo. Há um clima de festa na plateia e os telespectadores também poderão acompanhar o evento transmitido em cadeia nacional. Desde 1876, há 142 anos, não víamos uma morte pública, demandada pelo Estado, quando o negro Francisco foi enforcado no município de Pilar, em Alagoas. Agora, o método é outro. Belos fuzis importados abaterão o traidor da pátria e da família, um sujeito assustado e baixinho, acusado de escrever impropérios contra o governo. O povo apoia, é o que interessa, disse o novo presidente a uma imprensa já preparada para o espetáculo. Os patrocinadores são uma empresa de cosméticos e um banco.

Durante a semana, em chamadas regulares, a TV anunciou o fuzilamento com certa sobriedade. Mas aos poucos surgiram vinhetas mais animadas, como nos anúncios sobre futebol e Formula-1, pois a audiência tem sido acima do esperado. Nos telejornais, matérias com a família e amigos do futuro morto que, apesar de tristeza, viam na medida governamental uma forma inovadora de conduzir o país dentro de padrões de respeito à autoridade e preservação dos bons costumes. Não dava para ficar do jeito que estava, observou a mãe do réu, eleitora entusiasmada do regime recém-inaugurado. Numa demonstração de patriotismo, ela não chorou.


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