segunda-feira, 4 de julho de 2011

Páginas Amareladas: Emanuel Malindre, o escritor, troca a ficção pela Auto-ajuda

Até há pouco tempo, Emanuel Melindre era um escritor independente. Tinha um círculo de admiradores, restrito ao grupo de amigos, também escritores ao seu estilo, e os elogios dos pares parecia suficiente. Não para sobreviver com a literatura, claro, mas para sustentar o ego em condições razoáveis. Dava ainda para justificar sua eterna falta de dinheiro, suas roupas puídas e a cabeça erguida. Pelo menos até o ponto em que se via premido ao dinheiro emprestado e a outros favores de natureza prática. O trabalho tinha qualidade, foi citado algumas vezes em blogs do ramo, vez por outro participava de pequenos saraus e debates e namorava uma estudante de Letras fanática por suas sacadas sobre a perdição humana e a falta de sentido de vida. No início do ano, no entanto, Emanuel deu uma guinada em sua vida: migrou para o mundo da auto-ajuda. Seu livro mais recente, Problema não é problema, está no topo das listas dos mais vendidos há mais seis semanas e já tem traduções anunciadas em inglês, francês e búlgaro. Ele já comprou um apartamento, viajou pela primeira vez à Europa e percorre o país em concorridas noites de autógrafos. Nesta entrevista, feita no escritório de seu agente, na Alameda Itu, em São Paulo, Emanuel conta como ocorreu a transmutação, fala da perda dos antigos camaradas de letras e da conquista de um novo universo. “A vida é curta demais para vivê-la sem grana”, justifica-se. “Sei que o dinheiro não compra tudo, mas na minha condição anterior eu não comprava nada”.

P - Alguns de seus amigos se assustaram com a mudança. Afinal, aquelas aliterações, os parágrafos curtos e as mensagens certeiras - tão destacadas em sua obra anterior - pareciam indicar que um grande escritor estava a caminho.


Emanuel - Agora é tarde. Por que vocês não disseram isso antes? Não deram uma linha sobre meus três livros. E pense bem: O cara faz um produto de qualidade, mas as editoras trabalham com escala, como toda empresa capitalista, e vendem o que a maioria quer comprar. No meu caso, era mais grave. Nem editora eu tinha. Aliás, nem livraria. Eu era um marginal, que não cumpria a lei. Agora não. Se existe uma lei que cumprirei ao pé da letra é aquela da oferta e da procura.


P- O Sr. acha que auto-ajuda ajuda?


E – A quem lê, tenho minhas dúvidas. Minha preocupação era saber se ajuda a quem escreve. Neste particular, não tenho reclamações.

P- O Sr. Tenho algum dilema moral por ter, digamos, mudado de lado?

E – No principio experimentei certa inquietação, mas só durou até o adiantamento da editora para um segundo livro de auto-ajuda. Hoje, acredito que dilema moral não tem mais lugar em um mundo globalizado. Essa coisa é um atraso de vida, faz mal à saúde, atrapalha os negócios das empresas e das pessoas.

P- Os críticos têm reclamado que o Sr. trocou frases bem construídas e reflexões profundas sobre a civilização Ocidental por lugares-comuns. O que tem a dizer sobre isso?

E- Eu estava muito preocupado com a civilização ocidental, mas aos poucos descobri que a civilização ocidental não estava nem ai pra mim. Só fiz me fuder com esse negócio de ficção. Cadê a revista Piauí, cadê o Prosa @ Verso, o Sabático? Ninguém apareceu. Hoje é diferente. Minha foto está quase toda semana na Caras. Antes, o máximo que eu recebia em troca por meu trabalho era um “curti” no Facebook. Você acha que eu estaria aqui dando esta entrevista se continuasse a escrever aquelas bobagens pessimistas.

P- O Sr não acha que, agora, há uma perda da vaidade intelectual?

E – A auto-ajuda deixa o escritor mais despojado. Você se livra de subjetividades – e isso é uma libertação.


P – Que conselho o Sr.daria aos novos escritores?

E- Parem de reclamar da vida. Ninguém agüenta mais personagem que sofre da primeira a última página. O leitor que alegria, mensagens otimistas, coisas úteis para o seu dia a dia. Se isso resolve alguma coisa, não importa. O que interessa é que vende e estou precisando fazer um pé de meia. Um dos meus melhores amigos ficou chocado com isso tudo, mas no início do ano pedi R$ 100 emprestados e ele disse não. Em parte, posso dizer que naquele momento eu resolvi pular fora.

P – Há alguma coisa em sua obra anterior que pode ser usada na atual?


E- Acho que sim. Tem uma equipe cuidando disso.

P- Qual o saldo dessa mudança tão radical?


E – Ainda não consultei minha conta hoje, mas ontem era de R$ 1,5 milhão.


@_lulafalcao

Um comentário:

blog de conserteltelefonia disse...

Muito boa a entrevista. Os livros dele são ferrammentas poderosas par a aut0-realização
http://bit.ly/11Ke2HQ

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