terça-feira, 5 de julho de 2011

Anotações subjetivas sobre a escrita

Com duas ou três páginas já dá para descobrir se o que você está escrevendo caminha para mais um texto pretensioso e, nesses casos, na melhor das hipóteses, desigual. Você faz então o que parece mais adequado: puxa freio, tenta a leveza, procura tirar dos personagens aquela falsa densidade. Não dá mais. Depois desses dois acontecimentos conjuminados tudo está definitivamente perdido. Melhor começar por outra coisa – ou outra coisa.

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Situação muito comum. Ali pela sexta página o autor se dá conta que está sendo excessivamente autobiográfico. Revela pensamentos íntimos que às vezes dá até medo de pensá-los. Ronda-lhe também o temor de ser percebido, de estar usando momentos de terceiros, e trava. Neste caso, nem tudo está perdido. Melhor parar, deixar a decisão para depois. Os fatos da sua vida têm uma fantasia circundante ou intrínseca que vale a pena prosseguir? Há muitos senões sobre o discurso de fatos vividos misturados com o irreal. Mas o texto, sempre ele, dirá se é negócio ir em frente.

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Um olho na crítica, outro no público. Melhor, não. Siga a história como um solitário. Nenhum desses entes está observando você nesta hora. O texto e o diabo no corpo pertencem só a você.

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Às vezes o fato de tudo parecer sob controle pode ser equivalente a não haver controle algum. Se a história segue seu percurso quase no piloto automático, toda arrumadinha para a festa final, é sintoma que vem coisa sem graça por ai. Não é uma regra, claro, mas texto sem sofrimento é quase sempre um texto sem alma. Não precisa ser literatura. Pode ser jornalismo mesmo. Um dos grandes chefes de redação da minha terra gostava de ver repórteres colocando e tirando papel da máquina, envolvidos em cenas de quase desespero. Dizia sempre: “esse ai tem futuro”.

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Na maioria dos casos, escrever não é um meio de vida. Cuidado com as contas no final do mês. O desespero pode levá-lo a textos interessantes, mas também ao SPC.

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O que está acima é muito subjetivo. Talvez desnecessário. Importante: não é conselho. São impressões

@_lulafalcao

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