terça-feira, 12 de julho de 2011

O falsificador

Em seu país, ele inventou uma maneira de fazer dinheiro. Não era um negócio que gerava lucro, uma empresa ou investimentos na bolsa. Seu ofício era fabricar cédulas – um trabalho perfeito, verossímil demais, uma arte. Chamar as notas de falsas seria um insulto. O dinheiro era integralmente igual ao da Casa da Moeda. Nos aspectos mais microscópicos.

Marca d’água, marca tátil, microimpressões, numeração, fibras coloridas e luminescentes. Tudo perfeito. O desenho impresso em um lado se ajustava com precisão ao desenho que está no outro das notas postas em circulação pelos meios institucionais. Ele trabalhava, sabe-se lá como, num mundo de manipulação da matéria em escala atômica e molecular. Por uma caixa postal, chegou a enviar algumas notas para um desses institutos especializados em análises físico-químicas. Controle de qualidade. O diagnóstico, no entanto, era sempre o mesmo: dinheiro de verdade.

Mas ela produzia apenas seu salário. Grana de subsistência. Não queria ficar rico. Estabeleceu um rendimento para si e, todo o mês, emitia três mil. Se precisasse de algo extra, como uma nova geladeira, fazia um auto-empréstimo: deduzia nos lotes seguintes as prestações, fazendo menos dinheiro. Só lamentava não poder declarar seus ganhos ao Imposto de Renda. No fundo, era um legalista.


@_lulafalcao

Nenhum comentário:

Postar um comentário