sábado, 9 de julho de 2011

Woody Allen na Caatinga

Um professor de Harvard entediado sai do conforto de Cambridge (Massachusetts) para uma temporada na caatinga. Busca o sentido da vida no semi-árido. Encontra Graciliano Ramos escrevendo à mão, sentado numa pedra (emprestada por João Cabral), e segue sua jornada, sob o sol escaldante, em companhia do escritor. Tira o escritor. A idéia já foi usada em Paris. Corta ou chama o Cláudio Assis.

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Woody Allen, no papel de Woody Allen, desembarca no Recife porque o avião teve que fazer um pouso de emergência. Vinha de Buenos Aires, onde o cineasta procurava locações para um musical com tangos deprimidos. No voo, ele conhece Patrícia Amaral, que apesar do sobrenome nasceu no Estado de Utah de uma família de imigrantes brasileiros ilegais. Trabalhou como modelo em Salt Lake City e depois virou cuteleira (para não confundir: cuteleira faz facas, adagas, punhais etc). Priscila não é mórmon, como muita gente em sua cidade natal. É atéia. Foi ela, sentada na poltrona ao lado, que segurou na mão de Allen, quando os passageiros se viram diante da morte. Ficam amigos. Os dois resolvem não embarcar no próximo voo – ele com medo de avião; ela à procura de aventuras – e rumam para o alto sertão. Os motivos da decisão e a escolha do destino ficam a cargo do roteirista. Na viagem, o cineasta presencia fatos que irão mudar o futuro de sua cinematografia. Com algum atraso, adere ao Cinema Novo. Rascunha um argumento. Sugere Benício Del Toro para o papel de Glauber Rocha. Sinopse recusada.

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Ainda sob os efeitos de Meia Noite em Paris - mas pensando em Marshall McLuhan em Annie Hall -, Woody Allen encontra Dom Sebastião numa sertaneja madrugada estrelada. O personagem mítico aparece na história, assim sem muita explicação, apenas para destacar a cenografia armorial, supervisionada por Ariano Suassuna. Na sequência, bodes saltitantes, uma liderança do PMDB local, aquele bispo que faz greve de fome, motos-táxis e um cego que recita Walt Whitman. O desafio é transformar tudo isso numa comédia romântica. Allen volta à Nova York e consulta um psicanalista judeu do Brooklyn. Projeto arquivado por recomendação médica.

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Allen, encarnando um turista acidental, resolve filmar um roteiro que não é de sua autoria, mas de um cineasta brasileiro. Um Road-movie, uma viagem no sertão profundo. Graças às cenas sobre eletrificação rural, a Chesf entra como patrocinadora. No filme, o cineasta percorre trilhas desérticas enquanto fala sobre sua obra. É meio documentário, meio ficção. As falas são aproveitadas, em off, mas a paisagem é substituída pelas planícies costeiras do Connecticut. A Chesf retira o patrocínio.

@_lulafalcao

Um comentário:

teta disse...

Acabei de te descobrir. Atrasada, hein? Virei fã. Téta Barbosa

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