- Sou condescendente comigo. Aceito numa
boa, tudo, não reclamo de mim. Quando faço uma besteira, penso: “não é nada”,
“deixa pra próxima”, “amanhã a gente resolve”. A culpa é dos outros, assim como a
responsabilidade e o problema. Abstenho-me, tiro o corpo fora e adio
compromissos. Tudo é possível: voltar atrás, mudar de ideia e fugir de encargos.
Concedo-me não dar satisfações. Sozinho, me basto; e se tenho dúvidas, esqueço.
Com meus botões, sonho em mudar, mas não mexo um dedo. Sempre me perdoo e vez
por outra até admiro minha figura, no espelho, mesmo sem motivo.
- Não. Eu só consigo viver em bando. O
tormento de estar só é enorme. Não vejo graça em mim, fico cansado da minha imagem
apagada; só acendo na multidão. À noite, no quarto, procuro pensar em outros e
não raro finjo que sou determinada pessoa e ensaio pensar como ela pensa. Quando
caio em mim, fujo. Menosprezo-me e aniquilo-me. Leio livros e bebo para
esquecer-me de mim.
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