O que faz um velho sem condições de trabalhar? O dinheiro da aposentadoria não dava para o aluguel, a família sumiu, os amigos morreram e o orgulho e a dignidade impediam que saísse por ai, a pedir empréstimos e esmolas. Então decidiu morrer. Um prédio alto do centro, um voo, a queda. Os órgãos públicos, enfim, tratariam dele da melhor forma possível: limpeza do sangue no asfalto e enterro de indigente.
Deixaria uma carta seca, com observações técnicas sobre o sistema previdenciário, e um pedido de desculpas ao condomínio do edifício de onde alçaria seu voo. Nenhuma referência a suicídio. A palavra “voo”, de acordo com a reforma ortográfica, sem circunflexo, soaria menos dramática. Morrer, afinal, não é uma coisa de outro mundo, e se caísse na eternidade – duvidava -, talvez as condições fossem mais adequadas.
Ao meio dia de uma terça-feira, o velho voou.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
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2 comentários:
Todo dia continuou a se atirar do terreo, contrariando as espectativas, que depois de morrer, pudesse ainda morrer mais.
Priscila, esqueci de colocar o andar. Só que este não é do térreo.
bjs
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