terça-feira, 6 de julho de 2010

Linha dura no trabalho

A Veja desta semana traz matéria sobre o relacionamento das pessoas no trabalho e, ao fim do texto, veicula uma lista do que não se deve fazer durante o expediente. Em alguns casos, a regra é clara. Não é certo passar por cima do chefe, fazer fofoca ou cuspir no chão. Mas chorar? Segundo a lista, não pode. Nem contar intimidades. Nem tocar nos colegas. Muito menos reclamar do batente em público.

São tantos os mandamentos em algumas empresas que as relações pessoais tendem a desaparecer. Num futuro bem próximo, viveremos num ambiente sem graça e sem alma - uma terra de mortos-vivos corporativos. Em suma, a empresa, onde você passa boa parte da vida, não é lugar para amizades e prazeres.

Hoje, há companhias que não deixam funcionários serem padrinhos de casamento de colegas, vetam o emprego de casais (William Bonner e Fátima Bernardes seriam demitidos) e aplicam regras tão pesadas para as vestimentas femininas que transformam qualquer departamento numa pequena Arábia Saudita. Algumas não deixam seus funcionários em paz nem durante as folgas. Quem fizer uma festa de aniversário, por exemplo, não pode contar com a presença do pessoal da firma, que não permite tamanho contubérnio.

O esquema linha dura tem uma até uma ideóloga: a empresária alemã Judith Mair, sócia-fundadora da Mair u.a., agência de publicidade de Colônia. Ali, os funcionários são obrigados a limitar conversas telefônicas e e-mails pessoais ao mínimo, usam uniformes (sim, numa agência de publicidade) e não podem decorar a baia com fotografias dos filhos ou qualquer tranqueira pessoal, entre outras inúmeras restrições.

É estranha essa separação entre vida e trabalho. Mas na agência-campo de concentração de dona Judith – e em inúmeras outras empresas ao redor do mundo - as coisas funcionam assim. Prazer e trampo são coisas diferentes. Para viver, o funcionário só tem o final do dia (não por acaso existe o happy hour) e o fim de semana. “Com tanto desemprego, quem tem trabalho não se queixa”, diz Judith, que é autora do best-seller “Chega de diversão”.

Ao que tudo indica a pregação da informalidade nas relações de trabalho, que esteve muito em voga por uns tempos, tem os seus dias contados. Aqueles escritórios despojados e inovadores, como os da Google e da Pixar, servirão de péssimos exemplos no novo mundo das empresas.

@_lulafalcao

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