segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A rainha louca

O estilo delicado só atrai mulheres loucas, carentes de amparo e necessidade de freios. Saiu outro dia no jornal: molengas não têm vez com a maioria das fêmeas. Não é o caso desta personagem – linda, rica e destrambelhada -, cujo desfile nesta página exibirá um gosto exagerado pelo perigo e, ao mesmo tempo, a cautela a ser garantida por um homem certinho, culto e subserviente. Ele fez seus gostos, cumpre ordens, segura sua bolsa enquanto ela segura o copo, chama o táxi e a protege no auge da bebedeira. Dorme a seu lado, como um lacaio, e pode encostar-se, mas só um pouquinho, porque não se aproveita da constante embriaguês da semi-namorada. É, enfim, um porto seguro.

Ela bebe demais, mas o álcool só a faz mais doidinha do que já é. Só não dirige bêbada porque ele não deixa, só não tira a roupa em público porque ele não deixa e só não dá para todo o mundo porque, ai sim, ele ficaria puto e passaria uns três dias sem aparecer. Então, nessas ocasiões, ela procura se redimir - programa uma tarde light, um cafezinho na livraria, uma ida ao cinema. Depois só um chope ou dois e voltam para casa – a dela – para ver mais filmes e dormir sem sexo.

No dia seguinte o santo baixa de novo. “Venha correndo”, ela ordena, numa mensagem de celular, e ele vai. Já encontra a moça encoxada pela galera, dançando, braços para cima, equilibrando a long neck e ouvindo cochichos. Todos, na pequena área, querendo comê-la e ele, sem jeito, tentando pôr ordem na casa. Jogo difícil, diria o locutor. Mas ela segue, toda rainha, rodeada por maloqueiros, alguns sem camisa. “Assim não dá”, ele reclama. “Não dá o quê, porra?”, pergunta a louca. A dramática situação se agrava quando ela proclama: “Vamos todos lá pra casa”.

Previsível. A casa é bem servida. Vagabundo toma prosecco pela primeira vez na vida e ele tenta tirá-la do assédio pesado, como ocorre sempre. “Acho melhor você ir dormir”, ela diz “não vou”, e puxa um belga que apareceu ali ninguém sabe como e que já se sente dono do pedaço, quase lambendo o ouvido dela, falando em francês e alemão. O namorado ou amigo – nunca soube direito seu papel nessa história -, ainda está empenhado em separar a doida do estrangeiro impertinente, porque vai dar merda, e finalmente ela cede, não ao belga, mas ao sono. A luz do dia estourando, ela cai dura no sofá e ele toma as providências de praxe. Leva-a para o quarto, liga o ar condicionado e deita-se ao seu lado. Não na cama de casal, mas num colchãozinho de ar, desses de acampamento, como um cãozinho de estimação.

Quando acordam, à tarde, ele já está na sala, lendo os jornais. Ela chega, de banho tomado, quase serena. Deita a cabeça em seu colo e pergunta:

- Jura que nunca vai me deixar?

Um comentário:

Marília disse...

que descrição deliciosa de tipos você faz.
é quase aquele/a nosso/a amigo/a sem jeito. pior: é quase a gente mesmo.

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