Passei
a vida com o propósito de conhecer Paris. Na infância, era apenas
um sonho, a família pobre mal conseguiu me levar duas vezes à
capital do Estado. Quando jovem, no primeiro emprego, o dinheiro das
férias sumiu com dívidas e objetos de uso pessoal. Comprei um tênis
e um guia turístico da França. Sempre havia um impedimento para a
viagem. Já velho, enfim, veio a chance. Aposentado, tinha o
suficiente para pagar as prestações das passagens, em doze vezes, e
embarquei com a mesma ansiedade de criança.
Não
peguei no sono. Paris nunca chegava. Paris parecia cada vez mais
distante. Era como voar em sentido contrário ou em círculos.
Nenhuma paisagem lá embaixo. Só nuvens e o ronco dos motores. Os
outros passageiros aparentavam tranquilidade, como se Paris fosse
logo ali, um destino corriqueiro. Uns dormiam, outros liam, alguns
conversavam sem demonstrar ansiedade. Mesmo nos momentos de
turbulência não emitiam sinais de apreensão. A mulher do meu lado
roncava como se estivesse em sua cama. Comigo era diferente. Não
conseguia parar de mexer as pernas, suar frio e roer as unhas, sempre
pensando na possibilidade de não chegar.
De
repente, avistei a terra. Nada demais. Só áreas de agricultura,
longas faixas em tons de verde e amarelo, enquanto o avião começava
a descer, mas de maneira estranha. Não era possível um pouso
naquela posição. O bico estava abaixado demais, inclinando-se para
a vertical. Então, um dos tripulantes anunciou uma anormalidade –
uma anormalidade muito grande, pois um dos motores ardia em chamas e
caíram as máscaras de oxigênio e os calmos passageiros mudaram de
atitude. Gritos e deus nos acuda, o carrinho de bebidas rolando no
corredor como nos filmes, cheiro de fumaça e querosene e as
aeromoças aos prantos.
Não
encostei a cabeça nos joelhos, como os demais. Eu só queria ver
Paris pela janela e vi. Cada vez mais perto. Olha a torre Eiffel, a
cidade crescendo, crescendo, o Sena, uma linda manhã de maio. Cadê
o aeroporto? Não importava. Era a viagem dos meus sonhos.
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