sábado, 4 de maio de 2013

Como promover um livro num clube de swing





- Soft or hard? - perguntou a moça da entrada, em inglês impecável, pois esta história não se passou no Brasil. Digo mais: talvez nem tenha se passado. Não importa. Estamos em um clube de swing inteiramente fora do padrão. Dessa forma, resolvo meu problema com os especialistas nesta prática e suas modalidades. Iriam dizer que não é assim, mas no meu clube é, e ponto.

As expressões iniciais identificam casais que ficam nas carícias preliminares (sotf) e os que vão às vias de fato. O nosso hostess, barbadíssimo, aproximou-se para explicar. A primeira coisa foi deixar claro que aquelas pessoas eram empresários, profissionais liberais, nessa linha, como se precisasse de uma desculpa.

Não adiantou muito, no meu caso. Não vejo nada demais em troca de casais, seja numa casa noturna ou numa casa diurna. Grave é tentar mostrar-se acima de qualquer suspeita a partir de atividades profissionais – sempre empresários, profissionais liberais-, porque acham que estão fazendo alguma coisa errada e podem se redimir por terem boas posições no mercado de trabalho. Começa que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Sexo é sexo; trabalho é outra. Pelo menos eu acho.

A novidade dessa aventura foi encontrar, por coincidência, uma velha conhecida – hoje, mais velha do que conhecida. Há tempos não nos víamos e não éramos muito ligados, ou éramos? Não lembro bem. Só sei que era a gata da universidade e por causa dela – dizem - nossa instituição acadêmica tornou-se uma das piores do país. O pessoal ficou muito disperso com sua presença – professores, funcionários e alunos – e não rendia muito. Quem conheceu a moça sabe que não era exagero.

Na época, todos queriam vê-la de perto, trocar umas palavras, sentir o cheiro de seu cabelo e assim por diante. Nos Estados Unidos diriam que era “popular”. A gente só dizia que era “gostosa”. Eu também, é claro, estava me chegando, mas minha única chance era na condição de amigo. Ficamos mais ou menos amigos. Ela enfatizava sempre nossa amizade diante de outros, reduzindo minhas chances a zero. Cheguei a tentar umas abordagens. Ela saía pela tangente e um dia se irritou um pouco: “eu não gosto deste agarração comigo, não”. Ali morreu tudo e agora ela estava diante de mim, no clube deswing, sob o olhar animadinho do namorado, um sujeito bastante esportivo.

Terminou acontecendo. Foi meia boca e lamentei muito as décadas de atraso, mas deixei o passado pra lá. Não havia muito espaço para aquela conversa pós-trepada. Deu apenas para passar minhas impressões à parceira e a seu namorado. Como personagem – fique bem claro - disse de forma polida que gostava mais de relações extraconjugais que geram climas e destroem casamentos. O ambiente institucional do clube não me agradava. “O homem é coagido a seguir determinadas regras em cada sociedade”, respondeu o namorado, citando Émile Durkheim.

Não estava, no entanto, detestando o lugar, apesar do hostess e de Durkheim. Fiquei mais tempo. Logo encontrei as gêmeas niilistas. O que estariam fazendo ali? Adélia e Amélia são personagens do livro “Iberê, segundo Paulo” (Editora Nhambiquara, 204 páginas), a ser lançado neste mês. Na verdade, havia uma confraternização de figuras centrais da obra, inclusive o bispo Iberê, com sua namorada – a ex-atriz pornô Letícia –, e seu ghost-writer, o ateu e alcoólatra Paulo. Mesmo no escurinho, divisei outros participantes da pitoresca trama: a deliciosa Pepa, com uma saia curtíssima, e o fotógrafo Assis, olhos vermelhos de maconha. Sem contar os obreiros anônimos da Igreja, todos a caráter, com gravatas de crochê.

A turma tinha vindo para a avant-première do livro – o primeiro livro com avant-première - e queriam transformar o ambiente em algo menos burocrático e contratual. Paulo, o narrador, sugeriu a suruba como uma revolução dentro doswing. “Ninguém é de ninguém”, proclamou, já bêbado. As gêmeas toparam e o pastor consultou Letícia sobre a conveniência de participarem ou não. “Tenha cada homem sua própria mulher e cada mulher seu próprio marido (Coríntios 7:2)”, lembrou Iberê. Mas o esquivo bispo pentecostal já era outro – como se verá no livro -, cheio de leituras fora da Bíblia, e encontrou a desculpa em Soren Kierkegaard: “Sem pecado, nada de sexualidade, e sem sexualidade, nada de História”.

A partir dai, liberou geral. Minha velha conhecida juntou-se ao grupo e não fosse o exíguo espaço desta página entraria em detalhes técnicos, no jorro sexual sem precedentes da esbórnia, entremeados de “aleluias” . Há ainda, claro, o elemento surpresa, aliás, muitos elementos surpresa, e algumas surpresas sem elemento, como o próprio Deus encarnado no bispo, cuspindo sangue por todas as páginas. Situações desse tipo, e outras bem melhores, estarão no romance. Leiam.  

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