Finalmente a encomenda chegou pelo correio.
Uma caixa simples e dentro dela uns aparelhos desconhecidos e o manual de
instrução. Ele demorou três dias para entender aquilo. Havia comprado uma boneca
inflável, pela Internet, e ao abrir o pacote não viu sinais de plástico ou
outro material usado na fabricação desse tipo de produto. Podia ser engano, mas
ele seguiu em frente.
Quando enfim ligou a sequência indicada no
manual, surgiu uma mulher de verdade, pelo menos na aparência. A moça
identificou-se (número de série, data de fabricação, validade, SAC, etc) e
depois passou a fazer perguntas ao comprador. Perguntas pertinentes,
inteiramente concatenadas, e ao obter uma resposta era capaz de comentá-la com
agudo senso de humor e completo conhecimento de causa.
Ele ficou assustado porque nenhum programa
de computador, até então, poderia proporcionar uma obra tão divina e perfeita,
talvez um gênio, igual Jeannie, ou coisa muito melhor. Um filme, por exemplo.
Já viu uns dois com roteiro parecido. O certo é que ela estava ali, em sua
frente, exibindo predicados nunca vistos em outra fêmea. Linda e culta, bondosa
e sarcástica, elegante e casual. Vestia apenas short e camiseta.
Refeito, ele começou a pensar no absurdo da
situação: a mulher artificial funcionava (ou se comportava, não se sabe) da
forma mais natural do mundo. O comprador, no entanto, ficou meio sem jeito, sem
saber como chegar ao real objetivo da compra: sexo ou algo semelhante.
- Quer tomar alguma coisa? – ele perguntou,
ainda intimidado.
- Um café. Pode deixar que eu faço –
respondeu, alegremente, a mulher comprada na Internet.
Houve um breve silêncio durante o
cafezinho. Daí ela tomou a palavra, enquanto ascendia um cigarro.
- Você é estranho – disse ela -, olhando
diretamente nos olhos do comprador. Quem compra mulher inflável está com
problemas. Mas isso não é da minha conta. Você quer se divertir e estou aqui.
Vamos ao cinema.
Foram, voltaram e ele passou a explicar à
moça detalhes do funcionamento da casa. Conversa neutra, sem ganchos para
polêmica. Ficou com medo de sugerir uma ida à cama, mas perguntava por que
tamanha preocupação, pois ela veio pelo correio para determinados fins,
conforme o contrato do site. Estava de fato acuado diante da mulher artificial,
embora não parecesse, embora ela fosse mais bonita do qualquer indivíduo da
raça humana. Estava cabreiro com a suavidade dela movendo-se dentro da casa, a
segurança ao tomar posições, dar sugestões; clara sem ser ofensiva.
Eis o consumidor satisfeito e cheio de
dúvidas. Aquele papo furado (comprei, é minha) não tinha chances de colar
diante da bela intrigante. Optou por aprender com ela, exibir humildade,
estudar frases de efeito, entendê-la um pouco e exercitar a arte da conquista.
A ex-boneca inflável merecia.
Com o tempo, o relacionamento seguiu dentro
de uma inesperada normalidade, mesmo sem sexo. Na lista do comprador também
estava “não devo demonstrar ansiedade”. Coube à mulher quebrar o gelo. Explicou
que não tinha dramas morais em relação ao sexo e, caso fosse o caso, poderiam
experimentar. Rolou. Horny and wet, ele pensou, ao ligar as primeiras sensações
da trepada aos seus conhecimentos eróticos obtidos em sites pornográficos.
Ocorreu então a explosão, orgasmo com reflexos na escala Richter e nas linhas
de transmissão de eletricidade. Líquidos jorraram no quarto, inundando a casa,
e o cheiro de suor e sexo tomou conta do quarteirão. Cada célula do corpo
parecia sentir o gozo definitivo.
Amor nasceu ali, entre os lençóis, enquanto
ambos já estavam exaustos e satisfeitos. Ele resolveu arriscar. Primeiro: “de onde
você veio? Segundo:
por que não se casa comigo? Ela apenas repetiu suas especificações
técnicas, acrescentando uma advertência ao consumidor: “ainda estou na fase de
testes”.
Um comentário:
Muito bom.
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