quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Tuiteira: uma esnobe no subúrbio

@ Sai da casa dos pais direto para classe C. Um cômodo num cortiço enquanto arrumo um emprego ou coisa parecida. Está bem equipado, a vizinhança é boa, mas eu não teria coragem de chamar uma pessoa conhecida para ver isto aqui. A quem pergunta onde moro, respondo: um loft na Vila Madalena. Sem mais detalhes.

@ Vim conhecer nosso padrão de ascendência social de perto. Leio que os pobres estão consumindo mais, formam uma nova classe média etc e tal e cá estou eu, como um deles, desfrutando as delícias do espetáculo do crescimento. Não tanto assim, mas dá para enganar o estômago, ainda tenho o computador (minha mãe paga a plaquinha) e daqui a pouco vou à mercearia comprar uma vodka ou duas. O novo esconderijo merece algo especial, hoje à noite: miojo sabor galinha caipira + Dolly limão.

@ Meu medo era ter que frequentar lan houses, o resto passa. Também não preciso tomar contato com o pessoal do lado, cuja conversa sobre as mazelas do trabalho me deixam deprimida. Vivo trancada ou sumo por uns dias. Aparentemente, não notam minha presença. Nem mesmo quando faço alguns barulhos, à noite, diante da tela, ouvindo histórias que sensualizam minha existência por algumas horas.

@ Mas a excursão sociológica só é boa no início. Quero voltar pra casa. O problema é que minha casa agora é aqui. Na semana passada, sai do conforto do lar paterno, onde cumpri um período de convalescença financeira. Era bom (quer dizer: mais ou menos). Depois ficou esquisito. Comecei a sentir certo incômodo no ar. Por mim estava tudo bem ou parecia que sim. O incômodo era deles, dos meus pais. A cada dia fica mais claro que não contavam com minha presença neste mundo. Principalmente agora: desempregada, sem dinheiro e prestas a completar 36 anos. Só então percebi que minha família não é tudo. Aliás, é quase nada.

@ Um dia o velho tomou coragem e me emprestou R$ 1.8 mil a fundo perdido. Era a senha para eu cair fora. Portanto, não tenho para onde voltar, exceto de vez quando para o apartamento de um cara que conheci no twitter e que me requisita na baixa temporada. Lá, pelo menos, tem TV a cabo. Fica na classe B.

@ Já estou no loft-muquifo há alguns dias. No subúrbio, com todos os seus estereótipos. Musica nas alturas, programa Raul Gil, baixarias no bar da esquina, caça-níqueis clandestinos, DVDs piratas e o evangelho segundo Edir Macedo. Vejo tudo de longe. Não tenho estômago para discutir a atuação do Corinthians pensando ao mesmo tempo nos meus amigos do twitter que estão na Flip. Aqui ninguém sabe quem é Terry Eagleton ou Robert Crumb. Rola muito Gian & Giovanni, Bruno & Marrone e Edson & Hudson, quando não rola o pior: axé. Outra coisa: o Orkut, nessas bandas, é o que há. Em suma: a classe C ainda não chegou ao paraíso. Faltam saneamento básico e bancas que vendam Piauí e The Economist. Ser pobre e chique ao mesmo tempo é um desafio de logística.

@ O jeito, então, é me isolar. Como a TV aberta só me oferece o pior dos mundos, especialmente aos domingos, fuço meu laptop à procura de terras distantes. Coisinhas de Londres, bandas desconhecidas, sites pornô e o twitter. Minha nóia é achar que descobriram meu estágio de penúria e o twitter, como se sabe, não gosta muito da crônica suburbana. Prova disso foi a enxurrada de unflows que levei nesses dias.

@ Nessas bandas, o kit de sobrevivência inclui mochila, bilhete único, miojo (também conhecido como lámen instantâneo, criado na II Guerra pelo senhor Momofuku Ando), celular pré-pago, unzinho, Neosaldina e vodka a gosto. Muita.

@ Enfim, como disse não sei quem, as coisas estavam piores...mas foram piorando.

@-lulafalcao

Um comentário:

Gabriela Dalia disse...

KKKKKKKKKKK ainda bem que meu loft é dentro da propriedade da família.

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