O objeto estaria numa sala, num palco, enfim, diante de uma
plateia, pois o homem preso no cubo ouvia ao longe o som de vozes, muitas vozes
misturadas, alguns aplausos, causando uma onda em que nenhuma palavra era
audível. Também poderia ser um som interno ou barulho vindo de qualquer canto,
talvez até do espaço, e nesse caso o cubo poderia estar perdido no infinito,
vagando sem destino.
O homem pensou: deve haver uma saída. Pensou logo adiante como
fora parar dentro do cubo e por que um cubo e por que ele. Geometricamente não
havia saídas. Nem ele poderia quebrar as paredes por falta de ferramentas. O
homem estava nu.
Em tese, a história precisa de uma explicação sobre o homem
preso no cubo, ou em qualquer canto, podendo ainda ser uma metáfora ou mera
enganação. Mas isso é em tese. O nosso homem está preso no cubo por que está e
pronto. Talvez seja uma singularidade ou um recurso para contar um caso, embora
isso não seja o mais importante. Não há um caso propriamente dito. O homem está
no cubo como um homem está numa quadro com o pescoço espichado além do padrão
humano e ninguém pergunta por que – e se perguntou um dia não tinha tanta
urgência por respostas.
De volta ao homem. Sua primeira providencia foi gritar. Ninguém
ouvia. O som retornava para ele como se tivesse ricocheteado nos lados do cubo.
Ouvia os sons retorcidos, mas não poderia ser ouvido. O único passatempo em sua
prisão era pensar em cubos, especialmente no cubo mágico - o quebra-cabeça
tridimensional inventado pelo húngaro Ernő Rubik, conforme a Wikipédia. Eram
pensamentos que não interessavam muito naquele momento, visto que a questão do
cubo mágico é resolvida pelo lado de fora. Ele estava num cubo oco, numa
situação pelo lado de dentro, ainda não testada por nenhum dos 900 milhões de
usuários atuais do hexaedro mais popular do planeta. Esqueceu o cubo magico.
Também pensou em matemática: A=6 ² V=a. Nada. Resolveu então,
por instantes ou horas, esquecer o passado e imaginar que sempre estivera ali e
ali era a única permanência que sua vida registrava. Também seria uma pergunta a ser feita. Só não
sabia a quem nem como. Não havia interlocutores. Não sabia como o era o lado de
fora - e qual o pensamento do lado de fora a respeito de sua prisão no cubo? E
se tudo não passasse de uma teoria sendo testada? O homem também especula.
As dúvidas de ordem técnica e pessoal surgiam a toda momento
para o homem preso no cubo, sem contato externo nem uma ideia própria capaz de apontar
a saída ou resolver a equação, se tivesse uma, ou acordar do pesadelo, mas seu
último sonho foi sobre circunferências, bolas e curvas sinuosas. O homem não
estava louco. Estava dentro de um cubo.
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