segunda-feira, 11 de março de 2013

Personagens desnecessários III





RH

Eu promovia brincadeiras motivacionais para jovens executivos e gerentes. Todos se empenhavam, em nome de seus chefes, e se submetiam ao ridículo sem reclamações. Alguns manés gostavam de fato daquela pantomima de RH e participavam com entusiasmo. Por trás dos panos, eu sugeria a demissão dos mais destacados no teatrinho corporativo. Coitados, voltavam para casa sem entender nada. Nunca entenderam. Deram o sangue para serem competitivos e ousados. Ganharam o olho da rua. Coisa chata, sem dúvida, mas dava certo prazer em ver um otário sem emprego. Era a embromação dando certo por motivos contrários aos seus objetivos. Gostou dessa merda, rua.


Business as usual

Gasto tempo e dinheiro com a construção da minha imagem. Tenho assessores de imprensa e de marketing. Uso ternos caros – este, por exemplo, custou uma fortuna – e o cabelo ostensivamente penteado. Gel importado para um visual de quem acabou de sair do banho. Sou sempre assim. Acordo cheio de iniciativas. Como cereais, leio os jornais, faço esteira; tudo isso enquanto minha mulher ainda dorme, alheia ao mundo corporativo. Desço, o motorista me espera. Ligo para ela e só ouço um resmungo preguiçoso: “o que é desta vez?”, pergunta a mal-humorada.  Na verdade, apenas cumpro os protocolos do casamento. Não penso muito sobre isso. Meu negócio são os negócios.

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