quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sobre fracos e fortes


“Ele era uma moça”, como se dizia, sobre homens dóceis, educados, incapazes de matar um pernilongo. Muito antes das marombadas, fortonas, com pernas do lateral Roberto Carlos, se pensava assim, sobre a natural docilidade da mulher exportada para o homem.  A questão é mais geral, acho, e se refere à inevitável convivência entre pessoas fortes e pessoas frágeis, sejam mulheres ou homens, sensíveis ou não.

Guardamos uma fragilidade em algum lugar do corpo, no aspecto ou na mente, uma sensação de estar, e de que estará para sempre, numa posição inferior. Ele era assim, ainda é, não sei, nunca mais vi. Mas sua fragilidade era também sua grande arma, entrando por algum canal do cérebro e saindo de lá transformada num estranho sentimento de auto-estima. A razão de sua existência seria então contrapor-se à força, e dessa forma ganhar uma melhor razão para viver, razão superior à do próprio forte e poderoso, que é apenas a de manter-se onde está.

Depois desse toque de auto-ajuda, vamos todos de mãos dadas às considerações preliminares e ao mesmo tempo finais: em Física não é diferente. É excesso de força contra falta de força o tempo inteiro. No universo é assim e é assim na esquina e na política. O forte quase sempre vence, exceto quando há uma fusão inesperada de fragilidade e audácia com um bocado de sorte, e o fraco triunfa, mas isso acontece raramente.

É insólito, mas acontece. O frágil rapaz, quase uma moça, alcança o canto dos poderosos com ajuda dessa tal conexão de ocorrências e, detalhes de lado, o fraquinho logo se fortifica e torna-se igual aos Todos Poderosos, ganhando um sentimento novo e arrebatador, mas mesmo assim de segunda em relação ao que sentia antes. Por lei universal, ninguém quer de volta sua fraqueza e ele continuará dessa forma, evitando a queda, vivendo a infelicidade típica dos fortes, até que um dia cairá no mundo dos fracos, de novo, e se descobrirá pequeno e sutil como era e tudo seguirá nesse moto, mas acho que só para ele e uns poucos.

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