sábado, 26 de novembro de 2011

Questão de escolha

Uma bela mulher se aproximou e ofereceu-lhe tudo – amor, sexo, casa, comida e roupa lavada -, mas ele fugiu, levado pela ansiedade, porque sabe como terminam essas coisas. “Se vai ter fim, melhor nem começar”. O aparato da loucura é complexo. Desejo e precaução assim tão juntos não são comuns e estragam o dia e a vida. Questão de escolha.

Ele se esconde, ela dá nova chance. Mais uma oferta. O homem pode trair preventivamente, sempre, pois se um dia vir a ser traído a vingança já estará feita. Ele não enxerga vantagem no trato. Traição lhe trará culpa, e se for traído sentirá ódio. A fase é de não experimentar sentimentos. Mesmo assim, não sabe por que seus nervos estão esticados diante da simples existência da mulher, especificamente desta, a inesperada. A corda se romperá algum dia e virá o desgosto, o remorso por não ter tentado, a depressão e os remédios. Parece não haver jeito.

A idéia do fim do amor é perturbadora e por isso a idéia do início também é. Chega um dia em que os lábios perderão o gosto, será mecânico e maçante, quase abjeto, o beijo sem sabor de beijo. E um dos lados sentirá falta disso, mesmo assim. Ademais, naquela idade crítica, é mais difícil correr riscos. A velhice se aproxima e passar o período de espera da morte com a dor da separação não está em seus planos. Evita, então, qualquer movimento brusco na área do amor. Faz o que para substituir uma dos melhores emoções da vida? Quase nada. Vive através dos romances dos outros, em romances escritos e não escritos. Deixa a decepção para o momento final, quando o balanço amoroso estará no vermelho. Questão de escolha.

A última oferta. Morro por você, disse ela. Não há acordo. Morrer, todos morrem, e acrescentá-lo a essa loucura é apenas retórica. Não a quer dessa forma, entregue e desprotegida, dependente dele. Descarta a responsabilidade de ter uma vida em suas mãos. Não morreria por ela, eis a recíproca, embora deseje o corpo e a alma da mulher. Para ele, o caso começa a perder sentido. Deixará tudo lá, em seu canto, como se nada tivesse acontecido. Antes de partir, extrai dela encantos que nem sentiu na pele. Questão de escolha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário