Um desafio gigantesco para um artista de tantas bienais e instalações. Seu último trabalho, neste mundo ecumênico das artes plásticas, seria matar-se e, em seguida, ter o próprio corpo escondido por um mecanismo acionado post-mortem. Uma realização de fino gosto para retirar-se de cena com algum alarde nas editorias de cultura.
A máquina é complexa e funcional. O engenho, em si, tem seus méritos. Mas o esquema conta ainda com programas de computador capazes de disseminar pistas falsas e uma competente assessoria de imprensa. O processo do adeus – ou Der prozess, como o artista prefere - tem alta tecnologia, soluções criativas e, acima de tudo, charme. Falta apenas um patrocinador disposto a polemizar. Algumas marcas estudam o impacto de tão performático suicídio em seus pontos de venda.
Já os críticos estão abismados – bom sinal - e nenhum deles ousou um texto condenatório. Querem ver o resultado estético para depois escrever sobre o assunto. Ninguém fez comentários sobre o lado mórbido da morte porque não cairia bem a um crítico tamanho lugar comum. Do mesmo modo não esperam uma alegoria sobre o fim da arte. Óbvio demais.
Quanto ao artista, ele segue em simulações. Está bastante animado com a proeza e o fato de não poder repeti-la em Kassel, por razões inequívocas, não lhe tira o sono. Será um espetáculo único, transmitido por redes sociais, “uma coisa pra cima”, com diz um de seus mais auxiliares mais próximos. Claro que está fora de questão qualquer vínculo obra-autor. Ele não está deprimido ou insatisfeito com a vida. Pelo contrário. Quer tocar num extremo da arte, ir aonde nenhuma outra auto-instalação chegou. A graça não é simplesmente morrer – é esconder o corpo. Lúdico, não é mesmo?
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
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