domingo, 18 de setembro de 2011

Odete

Por anos estive ao relento da existência. Os projetos fracassaram, não havia saída. Mas agora, às vésperas do meu cinquentenário, vejo como as coisas mudaram. Estou de pé, sadio e com dinheiro no banco. Os filhos estão criados e se mulheres se foram, ficou esta ao meu lado, prestativa e heróica, testemunha de meus piores momentos, de vícios e males de década e meia.

Minha vida era uma tempestade sem abrigo e ela chegou justamente no instante de maior desespero, quando a enxurrada de danos já travava meus sentidos. Seu nome: Odete, 43 anos. Eu estava a caminho do fim. Só mulheres desse calibre são capazes de repor a dignidade de um homem, salvá-lo do naufrágio. Eu era um fardo pesado – não sou mais, graças a seus préstimos.

Renovado e disposto, livre de todos os dramas, presto-lhe a última homenagem nesta hora de dor e despedida.

Lamento, Odete, que tenhas partido no auge da minha glória. Lamento, Odete, que tenhas morrido para me salvar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário