Quando atravessei o deserto de Mojave estava sem papel e caneta e o diário de viagem foi deixado de lado em troca de outras atrações. Pensava em cinema e Geologia. Sentia o clima hostil. Lembro que os pneus do carro precisavam ser trocados, pois quase derretiam depois de certo tempo de rodagem. Mas havia cerveja no isopor e a motorista de Los Angeles, amiga da minha namorada e prima distante de Robert de Niro, estava com os seios à mostra por causa do calor. Passei boa parte do tempo entre duas visões. Lá fora, o Vale da Morte, lagos secos e a sequência de postes. No retrovisor, os biquinhos perfeitos da moça. Até hoje, desertos norte-americanos me remetem a peitos, apesar dos faroestes da infância, do cemitério de aviões, do Sam Shepard e de Win Wenders, que acabara de lançar “Paris, Texas”. Coitado do Harry-Dean-Stanton. Ser pedestre naquelas bandas não é fácil nem em filme.
Meu Road-movie, no entanto, era confortável e equipado: peitos da lourinha, cerveja, jazz a bordo, nacos e béquis. No caminho parávamos para observar o nada ou cascáveis se arrastando naquela caatinga estrangeira. Eu olhava para a estrada sem fim, refletia um pouco sobre essa adoração intelectual do deserto e novamente voltava discretamente o olhar para o meu oásis: os petinhos da Anne. Nunca presenciara uma exposição mamária tão longa e disponível como naquela viagem de 1984, coast to Coast, Los Angeles – Nova York.
Por falta de assunto, entre uma apreciada e outra na motorista, recordo que tentei engatar uma comparação entre o deserto de lá e o daqui, o sertão brasileiro, enfiando Graciano Ramos na história, Vidas Secas, Glauber Rocha, Terra em Transe, enfim quase todo o repertório possível de um nordestino provinciano e completamente bestificado com exibição natural, espontânea e trivial daqueles peitos. No mais, com o tempo a paisagem desértica vai se tornando monótona, cansativa, cheia de repetições. Já os peitos, não. Sem apresentar qualquer variação mais espetacular, conseguem prender a atenção full time, sem contar que eu não poderia me fixar no busto da moça durante todo o percurso. Além da necessidade de parecer blasé, havia o deserto lá fora e minha namorada estava sempre me mostrando pequenos montes erodidos e locações de filmes famosos.
Assim foi a viagem até o clima começar a estragar a paisagem interna do potente Nissan. Bateu um friozinho, escureceu e Anne repôs a blusa, de modo tão maquinal quanto a tirou. Só restava dormir. O deserto ainda estava lá, mas aqueles peitos se foram para sempre.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
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