terça-feira, 8 de junho de 2010

Velhice, Copa e Paraíso

O politicamente correto afligiu todas as faixas etárias, mas foi particularmente impiedoso com os velhos. Incluí-los na chamada “melhor idade”, com fazem as locutoras de aeroporto, é um escárnio. Melhor ser claro, direto e seco como o escritor Philip Roth: “a velhice não é uma batalha; a velhice é um massacre”.

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Em 1974, o artesão Silvio Gazzaniga ficou trancado em seu estúdio, na Itália. Comia ali mesmo. Quase não dormia. Ao final de uma semana, ele tinha confeccionado um dos objetos mais desejados da história: a taça da Copa do Mundo. Feita de ouro puro, com malaquita semipreciosa em sua base, a taça, de 36 centímetros, não foi tão cara. Custou U$ 20 mil. Por pouco o troféu não ganhou outro nome: Taça Palé. Não se sabe por que a FIFA mudou de idéia.

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A revista Piauí deste mês traz uma história da pesada sobre Adão e Eva – “Prevaricações Primevas”, de Reinaldo Morares. O texto de ficção descreve o Paraíso e seus primeiros moradores com altas doses de humor e blasfêmia. Conta, por exemplo, que a primeira relação sexual dos ancestrais do homem (pelo menos segundo a Igreja Católica) não foi, digamos, da forma mais convencional. O Adão de Moraes sempre esteve de olho em Eva, desde que ela surgiu de sua costela, “mas, e a coragem para peitar o Excelso Barbaças?”. O nosso ancestral, no entanto, termina traçando Eva a partir de um acidental 69 – o primeiro do universo -, seguido por sodomia. “E eles viram que efervescer em mútuas devoções urogenitais era bom – ‘bom pra caralho”, conforme escreveriam Adão e Eva em suas memórias (sim, no conto de Moraes eles escreveram memórias). Bom, depois Deus ficou puto com aquilo (ninguém sabe por que o interdito em relação ao sexo) e expulsou os dois do Paraíso. O resto é sabido. Ao final da leitura, em que Moraes expõe contradições do Velho Testamento, conclui-se que a criação do Mundo, tendo Adão e Eva como protagonistas, é uma das histórias mais mal-contadas de que se tem notícia.


@_lulafalcao

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