quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Em movimento 2

De repente voltamos a viajar de navio. Muita gente sem condições de pagar uma passagem aérea, então eles fretam navios, enchem de gente e soltam pelos portos do mundo. Assim, fomos nos diluindo. Fiquei por cansaço e falta de dinheiro.

Um monte de avenidas vazias. Ruas inteiras partiram. O mato cresce em bairros desabitados e o comercio registra queda todos os meses. Empregadores e empregados enfim chegaram a um acordo: não tem jeito. Por isso não achei estranho quando vi meu antigo patrão embarcando no navio. Só o cais ainda tem algum movimento. O transporte para o outro lado do mundo é o único negócio lucrativo.

Acordo cedo para arrumar comida, mas as filas são tumultuadas em frente aos caminhões da caridade. Não dá para todo mundo. Às vezes, uma pessoa gasta uma refeição no esforço de consegui-la. É uma luta até chegar perto, enfiar a mão entre muitas outras e dar o bote na cesta básica. Sempre desisto e volto ao meu pequeno estoque de enlatados – sardinhas e salsichas. Houvesse pão, faria sanduíches.

Agora é esperar por uma solução vinda de não sei onde. A informação ficou precária e nesse ramo ninguém confia em ninguém. Dai a dificuldade para entender o que se passa, por que chegamos a isso e aonde iremos parar. Muita gente daqui se enfadou de pensar no assunto. Os que partiram sonham com uma pátria que não existe mais. Os que ficaram só pensam em comer. 

Portanto não confio nas informes públicos, divulgados semanalmente. Não confio nas vagas esperanças de uns poucos. Falo o que vejo: bares vazios, filas para diversas providências de embarque, crianças procurando por seus pais. O frenesi do porto e o lixo sob a chuva

Nenhum comentário:

Postar um comentário