Rondando a cidade a te procurar, hei de
encontrar, mas está difícil desde sua transformação em agulha de palheiro, em
cortaziano fio de cabelo perdido nos esgotos da cidade, em garota sem celular,
sem perfil no facebook, sem amigos próximos - sequer parentes distantes. Estou
com seu retrato, percorrendo os bairros, perguntando se alguém conhece, viu de
passagem ou teve notícia. Até agora nenhuma pista.
A procura já dura três anos. Ela saiu com a
roupa do corpo. Disse que ia ali, “volto já”, e não voltou. Estava rindo quando
fechou a porta, não tinha um olhar de adeus nem motivos para sumir. Éramos
felizes nesta casa de dois quartos e uma pitangueira no quintal. Ela colhia
pitangas para fazer suco, dava beijinhos por qualquer coisa, nunca chorou e
seus olhos verdes acesos se destacariam em qualquer multidão. Não poderia
circular por ai sem provocar curiosidade, inveja e tesão. Talvez tenha me enganado
durante nossa vida em comum. Pouco provável, pois sempre perguntava: “é pra
sempre, né?”.
Imaginem a angústia da espera. Primeiro
olhando da janela, quando se passou uma hora; depois aguardando um telefonema,
quando se passou um dia. Na semana seguinte, a consulta constante dos e-mails,
nada, e dai em diante a grande busca. Vasculhei todos os lugares possíveis,
consultei conhecidos e detetives e coloquei na sala um grande mapa de São
Paulo, marcando com tachinhas coloridas as áreas de sua predileção. Nada. Finda
a varredura pelos lugares óbvios, parti para as cidades vizinhas, outros
estados, outros países.
O retrato dela já está em todos os cantos,
nos postes e posts. Procurei em necrotérios, hospitais e no Alto Comissariado
das Nações Unidas para Refugiados. Anunciei no rádio, em programas de grande
audiência, e contei meu caso a um conhecido caçador argentino de recompensas.
Vivo em função dessa espera, não há outra
razão na vida. Quando ela aparecer vou ficar uma fera, maldizer sua maldade,
chamá-la de doida e dar uns gritos indignados Melhor: vou sorrir discretamente,
abraçá-la com carinho e fazer uma única pergunta: “você trouxe cigarros?”
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