quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

É natal

A melhor coisa do Natal é o consumismo. Tem vaga temporária no shopping, a indústria produz mais e os camelôs tiram a barriga da miséria. Não existe nada mais bíblico do que as multidões da 25 de Março e a Bíblia, como sabemos, adora multidões, especialmente atrás de Jesus, desde a Galiléia a Sidom. A vantagem da onda humana da rua paulistana e dos shoppings é a sua comprovação em tempo real. Já o livro sagrado dos cristãos foi escrito bem depois do nascimento e morte do suposto enviado de Deus. Como obra literária é interessante, mas em termos de reportagem perde para qualquer flash do Jornal Hoje.

Nesta época do ano, com a economia morna, há sempre vozes clamando pela volta das origens do natal, com sua manjedoura e bichinhos em volta. Acham que o capitalismo acabou com a celebração. Esquecem de um detalhe. Há 10 mil anos, povos agricultores trocavam presentes, no solstício do Inverno, e foram os cristãos que tentaram detonar a festa pagã. Como não conseguiram, decretaram que o costume passaria a simbolizar a chegada dos Reis Magos, com ouro, incenso e mirra para o recém-nascido menino Jesus. Ai os presentinhos começaram a ficar mais sofisticados. Depois vieram Papai Noel, a árvore de Natal, o Wal-Mart e as quinquilharias chinesas.

Os Reis Magos, então, deram início ao consumismo da era cristã. A história é estranha. Eles foram guiados por uma estrela e levaram presentes para um bebê que nasceu de uma virgem, por obra do espírito santo, e que estava destinado a morrer para salvar os homens. Ele morreu para nos salvar, mas três dias depois estava vivo de novo. Enganou todo mundo. Mas isso é outra história. Fica para a semana santa.

O importante agora é vender e comprar. Aproveitar a data para dar vazão à sanha consumista, enfrentar a horda dos shoppings e encher de cara de sidra Cereser nas ceias natalinas. Para os cristãos mais tradicionais, resta um consolo: a Bíblia traz uma história fantástica, às vezes sem pé nem cabeça, mas não dá para desprezar um case de marketing com quase dois mil anos.

Publicado no malvadezas.com

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