Ao descobrir que tinha apenas três meses de vida correu para a Internet atrás de uma lista de coisas para fazer antes de morrer. Pensou numa relação de mil itens, mas o tempo era curto e ele nunca gostou de correria e afobação. Também faltava dinheiro para realizar o desejo número um - viajar pelo mundo. Fora de cogitação. Consumiu sua milhagem numa viagem a Curitiba e não iria entrar no cheque especial só porque o médico encontrou um negócio do tamanho de uma bola de tênis em seu cérebro. Você pode até brincar com a morte, mas com os bancos é diferente.
Então, como se faz nessas horas? O sujeito vai morrer, sabe disso com antecedência de 90 dias, mas não pode tirar o atraso por falta de logística e infraestrutura. Ficar em casa, coçando o saco, nem pensar. Queria seu tempinho na íntegra, com alguma diversão e arte, mas os eventos gratuitos deixavam muito a desejar naquele período. Por curiosidade voltou às listas. Descobriu que o problema não era apenas dinheiro: as melhores foram feitas para imortais. Ver um pôr-do-sol em Paris, fazer um Safári na África e conhecer o Ártico dão quase uma semana só de voo e aeroporto.
Alternativas mais conta: se entupir de drogas. Não. Poderia entrar numa bad trip e morrer antes do tempo no meio de um pesadelo, engolido por aqueles monstros grafitados da Vila Madalena. Religião: sem fé não funciona como consolo. Medicina alternativa: não. Livros de auto-ajuda: não, não e não. Poderia escrever um livro de memórias. Só que o bagulho em sua cabeça cresceria ainda mais, estragando um bocado de reminiscências. Haveria ainda os pequenos prazeres da natureza – o cheiro de chuva, as flores do campo e o mar batendo nas pedras. Tudo bem. Só que essa contemplação não duraria muito, talvez umas 24 horas, e ele queria preencher o tempo com mais emoção e aventura.
O fim da vida com hora marcada é um aborrecimento igual ao Natal e Ano Novo. Aquela correria para comprar presentes e organizar festas como se o mundo fosse acabar amanhã. A dele iria acabar dentro de três meses, mas não queria ficar estressado como os consumidores do shopping. É muita falta de classe.
Um ano se passou nessa dúvida. As listas não saíram de sua cabeça e ele vive enfiado no Google, percorrendo o mundo, pelos mapas e fotografias, organizando um rol de lugares para visitar antes de morrer. Concentra-se agora em restaurantes e museus. Quer ter tudo em ordem quando chegar a hora que não chegou daquela vez. O tumor sumiu (nem só os economistas erram previsões), mas ele está angustiado por ter perdido três preciosos meses de vida. De certa forma, sente-se traído.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
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