quarta-feira, 27 de abril de 2011

Brasil majestático

Todo o rebuliço em torno do casamento do príncipe William com Kate Middleton nos faz lembrar a nostalgia monarquista do brasileiro. Nossa coroa não teve o charme, o veneno e as degolas das congêneres européias, mas hoje, passados 122 anos do reinado de Pedro II, ainda são visíveis os sinais de nobreza. No Brasil, toda superioridade se ampara na figuração imperial. Não bastassem os reis Pelé e Roberto Carlos, temos o Rei da Cocada Preta, a rainha do Funk, o imperador Adriano, a imperatriz das Sedas e aquela menina que mora aqui do lado, inquestionavelmente uma princesa.

Na terra dos reinados e reinações - de Narizinho a Collor de Mello - há ainda o “meu rei” da Bahia e as expressões “reina sozinho”, “cabeça coroada”, “quem é rei nunca perde a majestade”, “Vai para o trono ou não vai?” (Chacrinha – 1917-1988) e “Em terra de cego quem tem um olho é rei” – esta última, provável adágio de Desidério Erasmo (Em regione caecorum luscus est rex), mas que foi adotada aqui com incomum entusiasmo.

Além disso, temos impérios para todos os gostos – dos camarões às tintas. Copacabana ganhou o título de “Princesinha do Mar”, Caruaru é a “Princesa do Agreste”, o carnaval tem um Rei Momo, a bateria de cada escola de samba a sua rainha e todos os nascidos reinaldos passam a “Rei” - uma espécie de apelido-reverência. Alguns levam uma “vida de príncipe”; outros têm “o rei na barriga”, enquanto os mais exigentes só usam a “massa real”. Em São Paulo, uma das mais pobres favelas da Zona Sul, a Real Parque, está encravada numa região onde prédios e condomínios receberam nomes que remetem à nobreza francesa. Não dá para percorrer um bairro sem esbarrar num Château de Versailles ou algo do gênero. Da plebe rude à classe média alta, reinam os nomes imperiais.

Mesmo com a impressão de que já escreveram sobre isso, e até demais, vamos em frente: a monarquia está mais presente no mundo dos produtos e serviços – lojas, restaurantes, empresas de ônibus e centenas de outros estabelecimentos descontam sua ausência da lista das Maiores e Melhores Empresas com algum toque de nobreza. Exemplo: Expedito, o Rei da Carne de Sol (Recife). Até o pornô tem suas realezas - rainhas do bumbum, do Anal, do sexo grupal e de outras partes corporais e modus operandi.

Por que isso? Talvez porque a realeza seja vista como uma medida de qualidade, um lugar dos ungidos, o topo, a última escala na direção das divindades. Como não fica bem usar santos nomes em vão (tipo “O Deus do cachorro Quente”), paramos em reis, rainhas e princesas. Talvez seja isso. Talvez, não.

@_lulafalcao

A partir de um post de Sônia Nunes, no facebook.

2 comentários:

VADE MECUM DE CULTURA disse...

Ótimo questionamento. Decorreu mais de um século e ainda vivenciamos a monarquia.. A exemplo do monarca moderno FHC. Ainda em 2008 Lula, na África, sorrindo para os fotógrafos, com roupas típicas de chefe tribal, indagou: Estou com cara de Rei?
É bem verdade, a "Real Sabor Assemble" brasileira
é súdita.

Lula Falcão disse...

Bom isso: a "Real Sabor Assemble" brasileira
é súdita. Concordo.

Postar um comentário