sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Humano


Não houve dores do parto. Ele veio ao mundo por outras vias, sem pai nem mãe, construído a partir de células desconhecidas, cultivadas durante anos.  Seu nascimento, ou apenas início, ocorreu em 20 de maio, às 14h20, conforme paper escrito pelo professor emérito, criador da criatura. De resto, era um bebê normal, de três quilos e oitocentos gramas, rosto rosado, ralos cabelos pretos e nariz núbio. Não chorou porque não estava previsto que chorasse. Abriu os olhos, observou ao redor e fez cara de quem já conhecia o ambiente. 

Na primeira infância estava destinado – ou programado – para atividades muito mais complexas do que encaixar triângulos em buracos com formato de triangulo. Nos primeiros dias se entediou com os testes de memória. Lembrava-se nitidamente de tudo, inclusive de partes do futuro, mas não lhes perguntaram sobre ideias e planos. Aos dois anos, falava com fluência vários idiomas.


Aos três anos, o protótipo foi desativado. Criou muito caso, brigou com cientistas e questionou aspectos cruciais do projeto que lhe deu origem. 

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