Todo mundo já ouviu histórias sobre o grau de satisfação das
pessoas, uns com tanto, outros sem nada;
gente incapaz de prazeres na vida, mesmo tendo tudo; gente sem nada e plenamente feliz, e assim
por diante. Tomo por exemplo minha
própria situação, no momento, olhando
calmamente a passagem do tempo, mas insatisfeito lá dentro. Consegui o
que parecia impossível – uma boa aposentadoria após uma vida sem regras e
planos. Naquela época eu queria ser o que sou hoje; hoje é o contrário: sinto
falta do tempo em que sofria pelo futuro. A insegurança estresante da espera
me mantinha vivo.
Hoje, não. Baixei numa planície silenciosa, simétrica, quase
sem contornos. O sol nasce e se põe e sinto uma angústia enorme com essa
repetição. Os dias são iguais às noites porque acendemos as luzes no vazio dos
corredores. A casa confortável é onde me enterro.
Não cheguei aqui depois de uma vida sacrificada. Apesar da
ansiedade, sacolejava ou adormecia, dependendo de momentos altos e baixos. De
qualquer forma, lembro hoje, era divertido atravessar a rua, com as mãos no
bolso, sentido apenas duas moedas; o medo de nunca mais ver dinheiro dava
sinais contraditórios. Primeiro, eu pensava como seria bom ter um certo a cada
mês; depois vinha a sensação de curiosidade e encanto diante da insegurança.
Nesse ponto, uma cerveja tinha grau dez em satisfação, pois não se tratava
apenas de pedir uma cerveja, mas de descobrir a forma de obtê-la. Então, o eu
de ontem era muito mais satisfeito em sua corda bamba do que eu de hoje, restrito
à paisagem infinita è a passagem do tempo.
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