domingo, 3 de novembro de 2013

O tiozinho envelhece


De repente, o sujeito para e conclui não estar entendendo nada. Entende a seu jeito, baseado no passado, mas não há valia para predileções fora de época. Isso passou; já era. Parece que foi ontem, mas não foi, acabou a festa.

Durante anos, já na meia idade, ele tentou acompanhar os modos e costumes em voga, a nova coreografia e o comportamento dos mais jovens. Desistiu antes de a velhice chegar inteira e agora pergunta o que resta.

O personagem já esteve aqui, em outra história. Era enturmado com jovens, frequentava suas festas e conhecia algumas intimidades, especialmente das meninas. Nada demais – só retórica -, pois no dia em que tentou acesso a prazeres juvenis, via uma ex-aluna, sentiu que estava vencido pelo tempo. A moça queria uma pessoa da idade dela, também da turma, e revelou sua opção com cuidado para não ferir a alma do velho professor.

Então, ele recolheu-se. Gasta seus últimos anos com literatura, sem entusiasmo para mulheres de sua idade. O vigor das jovens, mesmo sob a inocência, ainda é a razão da vida, mesmo sem o contato direto. Agora, enquanto recusa polidamente apelos das contemporâneas, o velho só observa de longe a passagem do tempo e a passagem daqueles corpos viçosos em qualquer lugar público ou privado. Trocou laços de afetos, alguns sinceros, pelo prazer de olhar as meninas.

Aliás, a vida só não é incômoda por isso, embora traga culpa, pois não é um hobby, talvez seja um vício ou doença. Talvez apenas uma maneira de ver o mundo – ele não tem respostas, segue o fluxo. Aproveita o fato de ser quase invisível e filma discretamente suas meninas em cenários estratégicos: banheiros, academias de ginástica, motéis e bares.


À noite, ele revê as imagens com nostalgia e comportamento respeitoso. 

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