O
que antes a gente chamava de hábito, passatempo, hobby, hoje é
distúrbio, vício, transtorno e síndrome. Para todos esses casos há
uma infinidade de remédios, alimentando o grande ciclo da indústria
farmacêutica. Criar uma doença para um medicamento, eis o que deve
estar acontecendo. Agora, ninguém pode repetir nada e logo um monte
psiquiatras cai em cima, cada um com um disgnóstico, e cada um com
um comprimido diferente. Esses comprimidos custam muito caro.
Sem
cair no panfleto ou na teoria da conspiração – e correndo o risco
de replicar milhares de blogs pelo mundo - desconfio que os
fabricantes dos medicamentos pensam muito parecido com os de shampoo
e sua imensa variedade de compostos para cada tipo de cabelo. Ou o
contrário: tipos novos de cabelos para novos compostos. Nos
primórdios do shampoo, tinha para cabelos secos e oleosos. Depois
foram se multiplicando com a criação de novas espécies de
conformação capilar, passando dos problemáticos arrepiados e
tristonhos aos que dispensariam shampoo - os lindos e maravilhosos.
Do
cabelo para a doença, vejam só: se o cara tinha um costume antigo
de estalar os dedos ou mau gosto de mascar um palito de dentes depois
das refeições já pode ser enquadrado como portador de Transtorno
Obsessivo Compulsivo (TOC). Mas há gradações, características,
peculiaridades, remetendo a conclusão que só uma mistura de
paroxetina, dibenzotiazepina, cloridrato de duloxetina podem
resolver o problema. Se o receituário falhar, há ainda uma droga
nova nos Estados Unidos capaz de organizar o funcionamento dos outros
remédios, tornando-os mais produtivos e eficientes. O resultado
desejado é que o paciente não fique alegre nem triste. Fica com
aquela cara de medicado.
Depois
do Prozac – a Coca-Cola dos tranquilizantes nos anos de 1990 –
germinou uma imensa gama de novos remédios para novos transtornos e
depressões. Nem são tarja preta. O efeito começa a aparecer em uma
ou duas semanas. Em sua mais recente versão, o Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais dos EUA (DSM)traz 300
patologias, não deixando espaço para uma pessoa ser considerada
normal. Nessa lista, por exemplo, entra até o amor, capaz de
provocar insônia, taquicardia, tensão muscular e alternância de
períodos de letargia e de intensa atividade.
Um comentário:
Qual será o remédio indicado para tratar os sintomas do amor? rs
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