terça-feira, 24 de maio de 2011

Intelectuais e o fim do mundo

Ela entrou com “Eichmann em Jerusalém” debaixo do braço para dar um toque ainda mais intelectual àquele primeiro encontro. Com o mesmo propósito, ele portava o “Homem sem qualidades”. Eles se conheceram na Internet, trocaram milhões de idéias sobre tudo, especialmente filosofia e psicanálise, e ao final de um interminável seminário a dois, resolveram que chegara a hora de a onça beber água. O local escolhido, por aclamação, foi uma livraria com café espresso. Um não conhecia o rosto do outro, mas o fato de serem ambos deleuzianos poderia facilitar as coisas. Só que ela observou de longe o homem que deveria ser ele e não gostou de alguma coisa. Talvez o olhar perdido. Não sabia ao certo. Bateu em retirada.

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Por que não uma revista para os intelectuais que detestam a Caras? Longe do fait divers da publicação de celebridades, o novo semanário retrataria o apartamento do enjoado psicanalista e de sua mulher especialista em literatura inglesa. Uma relação difícil, exposta com texto ferino e até niilista. Fotos em PB do casal (num encontro com Michel Foucault), livros por toda parte e uma tese de doutorado na escrivaninha. Logo a seguir, opiniões sobre ética, estética e filosofia. Nada de fofocas mundanas sobre separações e reatamentos. Na capa, o personagem contaria, com todas as mágoas e decepções, como se deu seu rompimento com Lacan. Agora está com Melanie Klein. A fila anda.

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Na terça-feira da semana passada, o homem que havia previsto o fim do mundo para o dia 21 de Maio refez seus cálculos. Como o planeta continua mais ou menos inteiro, o radialista evangélico Harold Camping, de 89 anos, anunciou uma nova data para o apocalipse: 21 de outubro deste ano. Não deverá ser levado a sério, ninguém ficará assustado. Mas imaginem o falecido polvo Paul fazendo a mesma predição? O molusco alemão não errou uma na Copa de 2010. Assim como o futebol, o universo também é uma caixinha de surpresas.


@_lulafalcao

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