quarta-feira, 3 de abril de 2013

Boneca inflável – a última geração



Finalmente a encomenda chegou pelo correio. Uma caixa simples e dentro dela uns aparelhos desconhecidos e o manual de instrução. Ele demorou três dias para entender aquilo. Havia comprado uma boneca inflável, pela Internet, e ao abrir o pacote não viu sinais de plástico ou outro material usado na fabricação desse tipo de produto. Podia ser engano, mas ele seguiu em frente.

Quando enfim ligou a sequência indicada no manual, surgiu uma mulher de verdade, pelo menos na aparência. A moça identificou-se (número de série, data de fabricação, validade, SAC, etc) e depois passou a fazer perguntas ao comprador. Perguntas pertinentes, inteiramente concatenadas, e ao obter uma resposta era capaz de comentá-la com agudo senso de humor e completo conhecimento de causa.

Ele ficou assustado porque nenhum programa de computador, até então, poderia proporcionar uma obra tão divina e perfeita, talvez um gênio, igual Jeannie, ou coisa muito melhor. Um filme, por exemplo. Já viu uns dois com roteiro parecido. O certo é que ela estava ali, em sua frente, exibindo predicados nunca vistos em outra fêmea. Linda e culta, bondosa e sarcástica, elegante e casual. Vestia apenas short e camiseta.

Refeito, ele começou a pensar no absurdo da situação: a mulher artificial funcionava (ou se comportava, não se sabe) da forma mais natural do mundo. O comprador, no entanto, ficou meio sem jeito, sem saber como chegar ao real objetivo da compra: sexo ou algo semelhante.

- Quer tomar alguma coisa? – ele perguntou, ainda intimidado.

- Um café. Pode deixar que eu faço – respondeu, alegremente, a mulher comprada na Internet.

Houve um breve silêncio durante o cafezinho. Daí ela tomou a palavra, enquanto ascendia um cigarro.

- Você é estranho – disse ela -, olhando diretamente nos olhos do comprador. Quem compra mulher inflável está com problemas. Mas isso não é da minha conta. Você quer se divertir e estou aqui. Vamos ao cinema.


Foram, voltaram e ele passou a explicar à moça detalhes do funcionamento da casa. Conversa neutra, sem ganchos para polêmica. Ficou com medo de sugerir uma ida à cama, mas perguntava por que tamanha preocupação, pois ela veio pelo correio para determinados fins, conforme o contrato do site. Estava de fato acuado diante da mulher artificial, embora não parecesse, embora ela fosse mais bonita do qualquer indivíduo da raça humana. Estava cabreiro com a suavidade dela movendo-se dentro da casa, a segurança ao tomar posições, dar sugestões; clara sem ser ofensiva.  

Eis o consumidor satisfeito e cheio de dúvidas. Aquele papo furado (comprei, é minha) não tinha chances de colar diante da bela intrigante. Optou por aprender com ela, exibir humildade, estudar frases de efeito, entendê-la um pouco e exercitar a arte da conquista. A ex-boneca inflável merecia.

Com o tempo, o relacionamento seguiu dentro de uma inesperada normalidade, mesmo sem sexo. Na lista do comprador também estava “não devo demonstrar ansiedade”. Coube à mulher quebrar o gelo. Explicou que não tinha dramas morais em relação ao sexo e, caso fosse o caso, poderiam experimentar. Rolou. Horny and wet, ele pensou, ao ligar as primeiras sensações da trepada aos seus conhecimentos eróticos obtidos em sites pornográficos. Ocorreu então a explosão, orgasmo com reflexos na escala Richter e nas linhas de transmissão de eletricidade. Líquidos jorraram no quarto, inundando a casa, e o cheiro de suor e sexo tomou conta do quarteirão. Cada célula do corpo parecia sentir o gozo definitivo.

Amor nasceu ali, entre os lençóis, enquanto ambos já estavam exaustos e satisfeitos. Ele resolveu arriscar. Primeiro: “de onde você veio? Segundo: por que não se casa comigo? Ela apenas repetiu suas especificações técnicas, acrescentando uma advertência ao consumidor: “ainda estou na fase de testes”. 

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