sábado, 31 de julho de 2010

O TOC da tuiteira

@ Antes eu era mística. Batia três vezes na madeira quando via fotos da família real inglesa – vá saber por que. Depois achei que era superstição, talvez um “Toc místico”, rezar uma Ave Maria enquanto via “Papo calcinha” na TV. Agora descobri que é só Toc mesmo. Tenho que parar com isso. Especialmente parar de contar carros com placas iniciada com W e meninas com melissinha.

@ Acho que foi o Orson Wells quem disse: “O que diferencia os homens dos animais é a vontade de tomar remédio”. Nesse aspecto, estou mais humana do que nunca. Medicamentos para depressão, para regular o humor, para dormir, para emagrecer. Mesmo assim, tenho a impressão de que a grande diferença entre nós e os bichos é a vontade de encher a cara.

@ A primeira pergunta que uma pessoa como eu faz quando entra de férias é: férias de que? Sou uma vagabunda em vários sentidos, mas quando o assunto é trabalho, sou uma vagabunda imbatível. Mesmo assim, olho no Google as possibilidades de destino. O mundo me espera. No final, tomo uma decisão racional e economicamente viável: passarei os próximos 30 dias sem sair de casa, no twitter e em outros sítios menos família. O Paulo Francis disse, antes de morrer de verdade, que já estava tecnicamente morto. Eu só estou viva virtualmente.

@ Tenho levado uma vida bastante conservadora em relação às outras pessoas. Nada de conjunções carnais ultimamente. A festa é comigo mesma, todos os dias, várias vezes. Mas para alcançar certos objetivos eróticos – o orgasmo é só um deles – preciso beber alguma coisa. Alguma coisa, não. Um monte de coisas. Mesmo sem ninguém por perto, sou tímida.

@ Um pouco de interação, só no twitter. Mas não tenho me sentido à vontade com certas expressões correntes. Chamar alguém de “seu lindo” ou “sua linda” não me soa natural. Sou uma pessoa trabalhada nos anos 90.

@_lulafalcão

terça-feira, 27 de julho de 2010

2020: o ano em que coçaremos o saco

Durante muito tempo martelaram em nossa cabeça que o trabalho braçal estava com seus dias contados. Precisaríamos de especialização, cursos universitários, MBAs e outros diplomas e predicados para exercer profissões consideradas superiores. Pois bem. Enquanto o operário continua com a mão na massa na construção do lado, as empresas tratam de reduzir o número de gerentes e diretores, máquinas já escrevem notícias esportivas e computadores se encarregam de substituir cérebros não-eletrônicos. Qual serão, então, as profissões do futuro? Talvez muito poucas.

A futuro, dizem, estaria na Internet e, agora, mais especificamente, nas redes sociais. Mas de repente qualquer usuário do twitter, por exemplo, se torna um especialista. Deixa de precisar do outro. O sistema se auto-explica, dispensando consultores. No máximo, a consultoria poderia indicar programas mais adequados para determinada necessidade. Meu vizinho é fera nessa área e vive com o dinheirinho contado do que ganha como ilustrador. Perguntam tudo para ele. Não lhes pagam um tostão por isso.

Daniel Portillo Serrano, do Portal do Marketing, escreveu ainda em 2002 um texto chamado “O fim dos empregos”, citando livro homônimo de Jeremy Rifkin. O escritor, que nunca li, refuta as previsões de Alvin Toffler em "A Terceira Onda", e Marshall Mc Luhan, com sua "Aldeia Global" - ambos com uma visão mais ou menos otimista do mundo para o século XXI. Para Rifkin, no entanto, a sociedade caminha para um declínio severo dos empregos.

O mais terrível da previsão de Rifkin: 2020 é o ano em que virtualmente se esgotarão as possibilidades de emprego. A pergunta é: quem vai financiar milhões de pessoas, em casa, coçando o saco?

@_lulafalcao

sábado, 24 de julho de 2010

A tuiteira vê coisas

@ Hoje de manhã, quando acordei para ir ao banheiro, um passarinho cantava na minha janela. Olhei direito: era o do twitter. Devo ter tomado alguma coisa muita pesada ontem para estar vendo isso. Mas o bicho parecia real. Cantava. Até ai, mais ou menos. Só que a música tinha letra. A vozinha atacava de “Mister Sandman”, num inglês bastante convincente para uma ave.

@ Mas não deixo de voltar à cama por causa de uma alucinação. Não é a primeira vez que acontece e eu preciso colocar o sono em dia. Durmo até o começo da tarde, em plena segunda-feira, e ainda levanto com a sensação do dever cumprido. Agora, é só dar um jeito no apartamento, tomar o meu Cimbalta e ligar o computador. O passarinho saiu da janela – ou da minha cabeça. Joguei na conta das coisas que a ciência ainda não consegue explicar.

@ Super acho que estou passando por uma fase que já dura a vida inteira. Fase ruim. Mas de repente começo a pensar que comer, beber, dormir e escrever umas besteiras são as melhores coisas do mundo. Felicidade não existe, como já atestaram Nietzsche e Odair José. Vou levando.

@ Sonhos de ontem: um vizinho aderiu à necrofilia e o genro cego enlouqueceu com a ideia fixa de que poderia conversar em Braille. O resto foi pornografia. Ninguém entende essa minha necessidade de estar eternamente sobressaltada pela malvadeza humana.

@ Vi um vídeo pornô do Stalone, “Party at Kitty and Stud's”. Todo aquele rambismo desaparece quando o pau come de outra forma. Chatinho, soft, brochante. Uma merda. Curioso ele falar que no Brasil podem explodir tudo. E aquelas duas torres da terra dele?

@ De resto, perdi a mão. Literariamente, claro, como afirma a garota má do twitter. Mas procuro segurar a pose com algum esnobismo, apesar da grana curta dos projetos culturais e da dieta à base de miojo, sardinha Coqueiro e álcool. O jeito é manter o Physique du Role (tem a ver?) da eterna insatisfeita. Às vezes dá certo. Às vezes, não. O não ganha.

@_lulafalcao

terça-feira, 20 de julho de 2010

A tuiteira encontra o amor (e depois perde)

@ Viajei. Uma viagem incomum, no meu caso. Dessas de um lugar para outro. Ônibus, paisagens, rodoviária. Nada de drogas. Pelo menos por enquanto. Fazia tempo que não saia de casa, mas cá estou, numa cidade estranha, fugindo de mim mesma e atrás de alguém que conheci no twitter. Nem sei se é homem ou mulher, mas não estou em condições de exigir muito. O nome dele (a) é @I-Toy. No momento é o que basta.

@ O problema: @I-Toy não me esperava. Peguei um táxi e me instalei num hotel duas estrelas, com banheiro coletivo e uma estranha placa de advertência no quarto: “É proibido cuspir no chão, limpar o pau na cortina e matar pernilongo na parede”. Acho que parei num puteiro. Agora é tarde.

@ O quarto: cheiro de mofo, uma Veja de 1989 jogada no Chão, torneira pingando, cama precária e uma TV de 16 polegadas. Banda larga, nem pensar. A boa notícia: o canal privê só com clássicos do gênero, vintage total. Rever John Holmes, no auge, vale a passagem. Mas, cadê o @I-Toy? Ligo para o celular que a figura me passou por DM. Fora de área.

@ A sensação de que @I-Toy não existe vai se tornando cada vez mais forte. Com esse nome, talvez nem seja uma pessoa, mas uma coisa, um robozinho que tuíta ou um novo lançamento da Apple. O jeito é sair por ai até encontrar um porto seguro, ou seja, uma Lan House. Nessas horas, não adianta reclamar, você tem que aproveitar o que Deus lhe deu - essa vida de merda – e manter o foco. Agora eu pergunto: que foco?

@ Lan House: para minha surpresa @I-Toy aparece na timeline, cheio de desculpas. Promete me encontrar às 14h30, depois da depilação. Penso: é mulher. Mais tarde, descubro a verdade: @I-Toy é um traveco.

@ Finalmente juntos, eu e @I-Toy, iniciamos o delicado jogo do amor. Primeiro peço para ele se livrar da gilete. Topo tudo, mas assim é demais. Conversamos um pouco e me vejo diante do impensável para uma figura tão submundo: @I-Toy é um intelectual refinadíssimo, daqueles que a gente só vê no Café filosófico, da TV Cultura. Numa tarde, me ensina tudo sobre Giles Deleuze. À noite, me encaminha aos segredos da literatura erótica do século 19.

@ Foi bom enquanto durou. Volto pra casa abatida, desencantada da vida, depois que @I-Toy me dispensou sob a desculpa de que tem uma tese de doutorado pra escrever. O ônibus me leva ao inevitável – um apartamento em ruínas. Com pouco dinheiro, vou ao supermercado. Levo uma garrafa de 51 e um limão só pra pensarem que vou fazer caipirinha. Mas detesto bebida com frutas. Como evito beber de manhã, espero pelo início da tarde. Ainda bem que já são 11h59.

@_lulafalcao

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A tuiteira e o sexo com Josué Montello

@ Acordei cedo para levar as crianças na escola. Café da manhã em família. Meu marido comeu uma torrada, apressado, para não chegar atrasado ao trabalho. Mesmo assim despediu-se com um beijo apaixonado e deu aquele tradicional beliscão na bochecha dos meninos. Na mesa, ovos com bacon e waffler com Maple Syrup. Parti feliz da vida. Depois da escola, academia, aula do mestrado e volta ao lar para uma noite de amor ao som de John Williams. Doce vida de dona de casa.

@ O parágrafo acima não é comigo, mas desejei que fosse. Vi num filme hoje de madrugada. Só não lembro o nome nem a história porque estava bêbada. Mas era americano, com certeza. Essa cena, em Hollywood, só perde para a frase “tire essas mãos sujas de cima de mim”.

@ Era quase meio dia quando resolvi sair da cama. Andei até o banheiro e lá estava meu laptop. Não só o lap. Havia duas garrafas de vodka – uma vazia, outra pela metade -, várias bitucas de cigarro e um livro de Josué Montello. Dava para explicar quase tudo, foi uma daquelas farras virtuais, menos o exemplar de “Mulher Proibida”. Já sei: pensei que fosse de sacanagem. Não era.

@ Na verdade queria mudar de vida. Casar, ter filhos, freqüentar reuniões de condomínio, pagar as contas com débito automático, ter cartão Mais do Pão de Açúcar e pedir nota fiscal paulista. Mas é um fardo enorme. Então, volto aos meus afazeres e desfazeres. O projeto para o Minc não saiu do lugar. Eu não saio do lugar. Vou beber. Pelo menos vejo o mundo rodar.

@ Tuitei a tarde inteira e, à noite, já meio cambaleante, comecei o inventário da quitinete: estoque de miojo no fim, acabou o papel higiênico, um rolo compressor passou por cima da pasta de dente. Restam dois dedos de vodka, uma catuaba selvagem e meia cartela de Rivotril. Provisão insuficiente para a madrugada.

@ Nos escombros, encontro ainda um pouquinho de sálvia. Bom tempero para o miojo. Mas resolvo dar outro destino ao produto: enrolo numa seda e fumo.

@ Sozinha, como sempre, vou noite adentro com uma frase na cabeça. Da minha amiga @harpias, do twitter: a vida é a espera da morte. Ou do fim de semana. O que chegar primeiro.

@_lulafalcao

terça-feira, 13 de julho de 2010

Tuítes desbocados

Em outra época talvez estivessem escrevendo em para-choques de caminhão. Agora, com o twitter, despejam as mais absurdas resenhas da vida em 140 caracteres. Quando acertam a mão, as meninas dessa história (@harpias, @Joyce.loucius, @fuckmeplease, entre outras) produzem a mais pura crônica do cotidiano. Mesmo quando erram são engraçadas. O bom é que não têm a pretensão de serem levadas a sério. Nem medo de escrever bobagens fenomenais. Muito menos de ficarem constrangidas. O que se segue é um apanhado do melhor (e do pior) da semana e uma desculpa para quem não teve tempo de atualizar o blog com coisa mais “em cima da hora”:


@ Nome: Bruna. Profissão: surfistinha

@ Entrar em coma induzido não é lá má idéia. São férias da vida

@ A diferença é simples: padeiro faz pão. Panificador faz panos dolorosos.

@ Pessoa Fria e Calculista = Aquela que mora no Polo Norte e é formada em Ciências Contábeis.

@ O verdadeiro Gênio da Lâmpada é o Thomas Edison

@ Fez gol de bola parada. Pode isso Einstein?

@ Cólica x Buscopan : A LUTA DO SÉCULO

@ Se a vida te der limões faça um suco de caju e deixe a vida se perguntando como diabos você conseguiu isso.

@ Não sou vadia; sou vanoite.

@ Hoje estou com olhos de ressaca por motivos bem menos nobres do que Capitu

@ A minha cara indica que a noite de ontem foi muito boa ou muito ruim.

@ Estou esperando sair o laudo do IML pra saber se eu estou viva ou não.

@ A única coisa mais feia que eu sou eu domingo de manhã

@ O que pensar de uma noite onde duas pessoas se beijando era raridade. Só tinha de 3 pra cima

@ Fui tomar juízo, mas só tinha “no cu”.

@ Meu metabolismo consegue ser mais lento que o meu raciocínio

@ Estou com tanta vontade de tomar sorvete que se perguntassem pra mim se eu queria sorvete eu sexo eu ficaria na duvida. Mas escolheria sexo

@ Diferença entre eu e o polvo é que ele faz as escolhas certas

@ Multitarefa é fazer a digestão e trabalhar ao mesmo tempo

@ Antigamente, na era Silvio Santos, as pessoas topavam tudo por dinheiro...hoje, na fase Amy e Lindsay Lohan, topam por apenas 1 cigarro!

@ O legal de pintar as unhas de vermelho bebendo é que daqui a duas latas eu começo a me desesperar achando que é sangue.

@ Tatuagens são cicatrizes que a gente escolhe.

@ Sei cada historia constrangedora sobre mim...

@ Mais vale chegar atrasado neste mundo do que adiantado no outro.

@ Eu poderia dizer coisas agradáveis a seu respeito, mas prefiro dizer a verdade...

@ Coloquei minha ultima dose de Catuaba selvagem. É triste beber isso e acabar a noite sozinha!

@ Vida virtual ativa. Vida sexual parada.

@ Viver é esperar pela morte. Ou pelo fim de semana. O que chegar primeiro

@ Invasão de espermatozóides ~○ ~○ ~○ ~○ ~○ ~○ ~○ ~○~○



@_lulafalcao

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A tuiteira de ressaca

@ Às vezes sonho que estou cheia de chagas pelo corpo, em plena Idade Média, me arrastando num daqueles lugares lamacentos e escuros, uma fogueira acesa logo adiante, uma pequena multidão gritando: “queima, queima!”. Acordo e a sensação ruim não passa, não há alívio. O nome disso é ressaca. Nessas horas, só consigo querer uma coisa: morrer. Não dou fim à vida porque tenho mais de mil seguidores no twitter. Não sou de deixar ninguém na mão. Quer dizer, ontem deixei, mas isso é coisa de sexo virtual. Deixa pra lá.

@ O pior estava por vir. Uma sequência de atos heróicos: banho, miojo, telefonema pra minha mãe, epocler e duas cervejas pra rebater. E ainda terei que trabalhar. Como já disse, faço projetos para a Lei de Incentivo à cultura. Também disse que não agüento mais. Não agüento mais nada, na verdade. Se a profissão de puta não fosse cercada de tantos prelelês morais, eu encarava. Não, não encarava. Estou gorda.

@ O que estraga a vida são os prazeres em excesso. Meu caso. Prazeres vagabundos, então, são uma desgraça. Não prestam, mas viciam. O pior é que tudo que eu gosto estraga o corpo e a mente: beber, dormir e comer. Basicamente isso. O troco é uma ressaca mastodôntica, quase uma paisagem na minha frente, tomando conta do quarto e da minha vida desde a adolescência. Pensar na morte é o de menos. Morte é pluft, acabou. Problema mesmo é pensar em obesidade.

@ Estava precisando mesmo sair de casa, dar uma volta, ver gente. Sai. Olhei para o porteiro do prédio, troquei duas palavras com ele, e voltei pro o apartamento. A vida lá fora não está fácil.

@ Conselho à amiga que acordou numa casa que não era a sua, com um cara que não era o seu. Olhe a estante. Em caso de Paulo Coelho, Lia Luft e Dan Brown, caia fora.

@ Segunda-feira tenho que fazer o exame Papanicolau. Por que esse nome? Tem a ver como o Papa Nicolau V? Qual a ligação desse homem com a ginecologia? Google: nenhuma. O nome é homenagem ao cientista de origem grega George Papanicolaou (1883-1962), que estudou a citologia vaginal e conseguiu descrever as células malignas em seus primeiros estágios de desenvolvimento. Eca.

@ Tempo nublado, trabalho que não fiz, contas a pagar, grana que não pagam. Pelo menos me resta um consolo na vida. Tem quase 20 centímetros.

@_lulafalcao

terça-feira, 6 de julho de 2010

Linha dura no trabalho

A Veja desta semana traz matéria sobre o relacionamento das pessoas no trabalho e, ao fim do texto, veicula uma lista do que não se deve fazer durante o expediente. Em alguns casos, a regra é clara. Não é certo passar por cima do chefe, fazer fofoca ou cuspir no chão. Mas chorar? Segundo a lista, não pode. Nem contar intimidades. Nem tocar nos colegas. Muito menos reclamar do batente em público.

São tantos os mandamentos em algumas empresas que as relações pessoais tendem a desaparecer. Num futuro bem próximo, viveremos num ambiente sem graça e sem alma - uma terra de mortos-vivos corporativos. Em suma, a empresa, onde você passa boa parte da vida, não é lugar para amizades e prazeres.

Hoje, há companhias que não deixam funcionários serem padrinhos de casamento de colegas, vetam o emprego de casais (William Bonner e Fátima Bernardes seriam demitidos) e aplicam regras tão pesadas para as vestimentas femininas que transformam qualquer departamento numa pequena Arábia Saudita. Algumas não deixam seus funcionários em paz nem durante as folgas. Quem fizer uma festa de aniversário, por exemplo, não pode contar com a presença do pessoal da firma, que não permite tamanho contubérnio.

O esquema linha dura tem uma até uma ideóloga: a empresária alemã Judith Mair, sócia-fundadora da Mair u.a., agência de publicidade de Colônia. Ali, os funcionários são obrigados a limitar conversas telefônicas e e-mails pessoais ao mínimo, usam uniformes (sim, numa agência de publicidade) e não podem decorar a baia com fotografias dos filhos ou qualquer tranqueira pessoal, entre outras inúmeras restrições.

É estranha essa separação entre vida e trabalho. Mas na agência-campo de concentração de dona Judith – e em inúmeras outras empresas ao redor do mundo - as coisas funcionam assim. Prazer e trampo são coisas diferentes. Para viver, o funcionário só tem o final do dia (não por acaso existe o happy hour) e o fim de semana. “Com tanto desemprego, quem tem trabalho não se queixa”, diz Judith, que é autora do best-seller “Chega de diversão”.

Ao que tudo indica a pregação da informalidade nas relações de trabalho, que esteve muito em voga por uns tempos, tem os seus dias contados. Aqueles escritórios despojados e inovadores, como os da Google e da Pixar, servirão de péssimos exemplos no novo mundo das empresas.

@_lulafalcao

sábado, 3 de julho de 2010

A volta tuiteira compulsiva

@ Acordei tarde. A sensação de estar perdendo alguma coisa no twitter me deixa angustiada. Não devia estar assim. Afinal, sai de lá às 4 da manhã, depois de uma conversa sem sentido com alguém sem sentido. Nem sei se era mulher ou homem. Tanto faz. Mesmo assim terminamos no MSN, que é uma espécie de motel virtual. Não tenho a menor idéia do que aconteceu. Muito menos o que esta garrafa de vodka vazia está fazendo debaixo do edredom.

@ Só ao abrir o computador descobri que o Brasil saiu da Copa. Aliás, descobri que a Brasil jogou hoje cedo. Não sabia ou esqueci. Todos estão atrás de um culpado, mas minha tarefa é outra: desvendar os mistérios da noite-madrugada passada. Tenho minhas prioridades.

@ (Mas não dá para fugir da Copa: não vi os jogos direito. Fico mais interessada nas fofocas do que nas partidas. O melhor de tudo foi aquele anúncio do supermercado Extra, na Folha de S. Paulo, dando um tchau pro Brasil antes do tempo. Essas coisas me fazem acreditar em teoria da conspiração, desta vez envolvendo o Extra, a Folha, a FIFA, a família Illuminati e o Elton John).

@ Intervalo. Tracei o miojo de uma sentada só, como dizem os críticos de literatura. Na sequência, voltei ao meu conglomerado de comunicação – twitter, Facebook, Orkut, Skype e MSN – atrás de explicações para meus descaminhos no mundo virtual. Não era uma coisa bonita de ver. Nunca me expus tanto em minha vida. Segredos que nem meu terapeuta conhece estavam ali, em 140 caracteres, entregues ao mundo e, especialmente, a uma desconhecida (era mulher), que me tratou como cachorra de baile funk. Foda-se.

@ Tudo estava registrado. Até fantasias de infância, como ligar um liquidificador com um pintinho dentro. Pintinho mesmo – o filho da galinha. Depois, xaveco por escrito e, pluft, sexo virtual. Como fui fazer aquilo? Deixa pra lá. O mais importante, naquela hora, era melhorar o humor e recuperar a memória. Minha TPM tem sintomas clássicos de mal de Alzheimer.

@ Por que essas meninas que escrevem no twitter se lastimam tanto da vida? Nem posso falar, pois faço a mesma coisa. Só lamentos. Não agüento mais viver de projetos culturais, não agüento mais viver só e muito menos acompanhada. Como diz a @harpias, que sigo religiosamente, nasci na época errada. Deveria ter nascido quando a mortalidade infantil era maior.

@ Hoje recebi convite para uma festa. DM simpática. Alguém simpático comigo já é uma novidade. Mas não vou. O tema: anos 80. Quando vão parar com isso?

@ Minha única amiga ligou apavorada. Contou que estava de ressaca. Pior: acordou e achou o quarto estranho. O dela não tinha criado mudo e o computador era de outra marca. “Porra, o que estou fazendo aqui? Essa não é a minha casa”, gritou ela. Eu disse: durma de novo e tente novamente.

@ Quando a noite chegou eu já estava bêbada mais uma vez. Se isso não for alcoolismo é algo ainda grave. Gosto de beber para tuitar e faço isso com gente que segue a mesma linha. Dispirocância geral. Prometi não repetir a dose (ou as doses) amanhã. Irei de Rivotril. Tenho duas caixinhas em casa. É melhor do que ter gatos.

@ Vida destrambelhada. Preciso de mais contato com o mundo exterior. Amanhã vou ao dentista. Não. Amanhã é domingo.

@_lulafalcao