quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ele está de olho é no tuíte dela

Enquanto uma parcela do twitter está ali para manifestar suas predileções culturais, gostos intelectuais, posições políticas, idéias comportamentais e fatos marcantes da vida (tipo "vou tomar banho"), ele surge com um único objetivo: descolar uma gata. Não é o espaço ideal, mas a timeline pode lhe proporcionar as mais liberadas e, por tabela, mais inteligentes. Ao contrário do que ocorre numa sala de bate-papo virtual, a conversa do sujeito em questão não pode ser direta. Passa por algum conhecimento da realidade e talento para construir frases de 140 caracteres em português legível. Não frases reflexivas para todos os seguidores. Mas para uma única vítima, escolhida após longa investigação, que inclui informações off-line e o perfil do Facebook. Afinal, não vale a pena perder tempo e energia com um avatar falso.

Alvo escolhido, mãos à obra. O primeiro mandamento de quem entra no twitter com essa missão é se enturmar com pessoas consideradas legais pela maioria (isso se descobre aos poucos). Ele é prestativo, responde a todos os posts, está longe de preconceitos, mas nunca perde de vista que os meios justificam o fim. E o fim é uma patricinha esclarecida (sim, existe) ou uma gatita dos Jardins, tipo bem-nascida, mas que gosta de zanzar por casas de amigos na Vila Madalena e, vez por outra, freqüenta o Morro do Querosene. Há muito tempo ele está de olho no twitter dela. Ou delas, se for o caso.

Nem pensar em cantadas baratas. O ambiente exige respeito. O ideal é a infiltração sorrateira, à base de algumas sacadas sobre o momento ou algo que ela disse. Não se deve arriscar muito em política. O certo, nesse caso, é o comentário meio blasé porque, no geral, o moço não está interessado em militantes petistas ou tucanas. Está interessado naquele tipo de mulher mais Clarice Lispector do que Marilena Chauí.

Até a primeira DM – o equivalente, no twitter, ao primeiro beijo – muitos caracteres vão rolar. Mas paciência é o que não falta ao nosso personagem. Ele se enfronha sutilmente pelas manhas dela, levando tudo a sério, procurando no Google a informação exata, mas nunca citando terceiros. Um Jabor, por exemplo, é senha para fim de caso. Nem Paul Bowles (pode ser pedante) nem pop art (ela vai tomá-lo por gay e, pior, transformá-lo em amigo). Enfim, mais @brunoaleixo e menos Nietzsche.

O dia “D” é um evento qualquer na cidade. “Apareça lá”, ela diz. A partir daí a sorte está lançada.

@_lulafalcao

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ela só quer, só pensa em tuitar

Essa minha filha não faz mais nada na vida. Só quer saber de tuitar. Dinheiro que é bom, nada, enquanto sou que sustento essa casa. Com meu trabalho. Ai ela vem com essa história de que os tuítes, as redes sociais etc e tais são coisas do futuro, que daqui a pouco tempo todos estarão ligados nesse sistema e só deles viverão, mas até agora não vi nenhum resultado disso. Resultado financeiro, bem entendido. Porque ela já tem mais de 30 anos e bem que poderia arrumar um lugar numa firma, fazer um concurso. Ma não, só quer saber de tuiter. Era como meu pai, que só queria saber de cachaça e terminou do jeito que terminou, com cirrose, numa cama de hospital, com poucos amigos. Está certo que o twitter não causa efeito sério ao corpo, é mais psicológico, mas que é um atraso de vida, isso é. No fim das contas é o mesmo que cachaça. O cara só está ali para beber, não faz nada além disso. Mesma coisa da minha filha tuiteira: parece que só tem uma obrigação, que é tuitar. Dar palpite sobre tudo, exibir certa cultura, porque fez curso superior, essa coisa toda, mas como eu disse no início: dinheiro que é bom, nada.

Agora eu me pergunto: qual é a graça? Passar dia e noite no computador, escrevendo um monte de besteiras, quando não imoralidades, para um bocado de gente que ela nem conhece. Pior é o que ela diz para rapazes que nunca viu na vida, com palavras de baixo calão, se oferecendo toda, como uma mercadoria. Não vou nem repetir aqui o que vi, mas dá desgosto em pensar que minha filha, minha única filha, praticamente está se prostituindo nessa história de twitter. Por enquanto ainda não falei com meu marido, que não se mete muito, mas estive conversando com minha amiga Adelaide e ela disse que, se a menina persistir nessa gandaia, eu devia procurar um médico, talvez um psiquiatra, porque isso pode ser uma dessas doenças novas que antigamente a gente chamada de doidice.

@_lulafalcao

sábado, 26 de junho de 2010

Diário de uma tuiteira compulsiva

@ Acordei cedo hoje porque sonhei com algo interessante para tuitar. Tomei café na frente do computador e postei, de forma meio cifrada, o caso da minha amiga Daise com a professora de yoga dela. Que babado. Nem lésbica ela é. Pelo menos não era. Falar nisso: é yoga ou yôga?

@ Já são quase 10h e tenho que trabalhar num projeto para a lei de incentivo. Perco o saco. Melhor tuitar. Penso em comentar a eleição, mas não tenho uma posição definida. Às vezes acordo de esquerda, às vezes acordo de direita. Não vou envolver o pessoal nessa minha bipolaridade política. Além disso, não quero perder followers. O povo partidário é assim: ou você está com ele ou está contra ele.

@ Melhor falar da Copa. O problema é ser óbvia demais. Tudo já está tão batido: Galvão, TV Globo, Dunga, vuvuzelas, jabulani... Não quero entrar em táticas futebolísticas. Primeiro porque acho chato, segundo porque não entendo. Sairia-me melhor como estrategista da guerra do Iraque do que no banco da seleção.

@ Quase meio dia e as meninas ainda não acordaram. Teve vodka demais ontem à noite, conforme disseram e até mostraram na tuitcam. Ontem, tomei uns goles à distância. @harpias e @fuckmeplease escrevem coisas insólitas e picantes. Sou boa nisso, mas como minha família é muito conservadora prefiro ficar só lendo os posts delas. I like to watch. No mais, tem coisas que ainda considero tabu: fustfuking, por exemplo. As duas falam disso como se fosse a coisa mais normal do mundo. Sem contar outra palavra que detesto: cu.

@ Ainda não almocei. Entre preparar alguma coisa mais sofisticada (arroz com carne) e comer miojo, opto pelo miojo. Mais rápido. É bom porque não perco o fio da meada de uma briga entre duas meninas. Motivo (aliás, motivos): traição amorosa, a escolha do vice de Serra e uso de uma frase de efeito sem citação da fonte. Reproduzo uma foto linda que encontrei no Google. Ninguém deu bola. Nenhum RT. Diante da dramática falta de assunto, vou à cozinha. Debaixo da pia tem meia garrafa de vinho. Miojo au ketchup com Château Duvalier (safra 2010). Festa de Babete.

@ Não sai daqui e já são três da tarde. Ainda não escrevi nada interessante. Só coisas do tipo: “Concordo”, “valeu”, “e ai, linda”, “Vamos nessa” e, claro, “delícia de miojo”. Vou comprar umas cervejas. Acho que seis dá, por enquanto. Quero ficar mais inspirada. Nunca deu certo. Sempre fico muito bêbada e começo a digitar frases que nem para mim fazem sentido. No dia seguinte, minha timeline parece uma cidade destruída pelas chuvas. Dislexia alcoólica.

@ Até que enfim. Emendei um papo com um rapaz de Minas que se diz produtor cultural. Rolaram umas DMs bem interessantes. A certa altura, ele pareceu querer algo mais sério. Não, nada ainda de encontros. Queria falar comigo no MSN. Como não tenho MSN, baixei um. A conversa dele era muito direta. Perguntou como eu estava vestida. Respondi: “até o pescoço”. Ele foi embora.

@ Noite. Já bebi todas as cervejas e desci para comprar mais. Comi um sanduíche frio no supermercado. Volto ao lap. Olho furtivamente para o formulário do Minc. “Objetivos”. Respondo baixinho: “nenhum”. Arrisco um comentário num post de um jornalista conhecido. Cruzo os dedos enquanto espero a resposta. Não veio. Que vergonha. Queria mesmo era dar uma notícia quente, em primeira mão, um furo. Mas essas agências internacionais são fominhas demais. Sempre dão na frente.

@ Vou passar uns #FFs para pessoas que nem notaram minha presença aqui. No meio da história, uma rara alma bondosa adverte que #FF é “Friday Follow” e hoje é sábado. Passei por imbecil. Mas pelo menos harpias e fuckmeplease estão numa sessão semi-erótica de tuiticam. Vejo aquele delicioso besteirol durante umas duras horas. Tuito uma frase de Camus e outra de Edmund Wilson. Nenhuma minha. Bêbada, só penso em sexo.

@ Meia noite. Fim de feira no twitter. Para os resistentes da madrugada, começo a tuitar links de música do youtube. Canto em voz alta. Para minha sorte, descobri um resto de vodka na geladeira. Tomo e crio coragem. A moça compenetrada da manhã se transforma numa rameira de segunda linha. Ai, sim, surgem os rapazes. Tirando as supracitadas “fustfuking” e “cu”, falo de tudo. Ofereço meu corpo. Marco encontros na DM, caio na boca do povo. O quarto começa a rodar.

@ Faço planos para amanhã: vou procurar ajuda médica ou começar tudo de novo?

@_lulafalcao

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Clima de Copa nos EUA

Mesmo em 1994, quando sediou a Copa do Mundo, os Estados Unidos não estavam nem ai para o futebol. Agora parece diferente. Não que as ruas estejam embandeiradas e cheias de vuvuzelas, mas pelo menos os jogos da seleção nacional e as de outros países são vistos por mais gente.

A partida dos EUA contra a Eslovênia, por exemplo, deu à ESPN norte-americana uma audiência histórica: 5,2 milhões de espectadores num país que sempre viu o esporte bretão com extremo desinteresse. Entre as grandes emissoras, a ABC arriscou e transmitiu alguns jogos ao vivo. De olho na torcida latina, a Univisión foi além e está transmitindo todos os jogos da Copa, com público garantido – inclusive em bares de Nova York, Miami, Chicago e Los Angeles Outro marco: EUA x Inglaterra superou a audiência das finais da NBA, entre os tradicionais Celtics e Lakers.

A repercussão da classificação dos EUA foi enorme. O próprio presidente Barack Obama, numa atitude inédita, fez questão de ligar para a comissão técnica e jogadores. Celebridades, como o ator Johnny Deep, preparam o passaporte para ver seu país na África do Sul. Bill Clinton esteve na tribuna de honra para assistir à vitória sobre a Argélia (1-0). Nesse meio tempo, prossegue a campanha pela candidatura norte-americana para voltar a sediar a Copa do Mundo em 2018 ou 2022.

Como sempre tem um porém, desta vez é a direita dos Estados Unidos que tenta barrar não apenas a torcida pela futura copa, mas o futebol nas escolas que, segundo o Estadão, já supera, em número de praticantes, o basquete e o futebol americano juntos. “Não gostamos da copa e não gostamos de futebol”, diz o comentarista da Fox News Glen Beck. Já o conservador radialista Gordon Liddy afirma que o futebol começou com índios sul-americanos que, em vez da bola, usavam a cabeça de algum inimigo.

Por que tanto ódio do futebol? A explicação de Dan Gaynor, também ligado a grupos de direita anti-Obama, é a seguinte: “Futebol é coisa de pobre”. Segundo ele, o crescimento do esporte se deve “ao amarronzamento da América”.

Indiferente à xenofobia esportiva, a jabulani continua rolando na terra do beisebol.


@_lulafalcao

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sexo, depressão e bom humor

Os frequentadores mais assíduos do twitter podem ser divididos em muitas categorias: gente em campanha eleitoral, poetas, frasistas, filósofos, noticiosos, banais... Uma delas é formada por um grupo de pessoas, especialmente jovens, com preocupações que passam ao largo do debate político. Os assuntos são outros: sexo, álcool, depressão, tédio, baladas fracassadas. O sexo, em tuítes bem safadinhos, aparece sem meias palavras e sem fronteiras, mas com diversão e arte. Mais diversão do que arte e um pouco de jornalismo "Gonzo" em 140 caracteres. A galera em questão prefere brandir sua vida pessoal sem censura. E com vodka. Muita, de preferência. O time, já citado neste blog, é majoritariamente feminino. Diariamente, despacha muitas e boas que rolam na intimidade, inclusive por meio de animadas seções na tuitcam.

Em muitos casos são avatares inventados. Pouco importa. O principal é que essa fatia do twitter é um paraíso para quem deseja saber o que se passa em faixas etárias bem menores do que a sua. Tem de tudo. Nesses posts, o sexo é o tema principal, mas sempre acompanhado de outras exposições bem pessoais e muito bem humoradas.

A seguir, alguns exemplos de tuítes, quase todos escritos por mulheres. Elas dominam o pedaço e partem para o ataque. Pelo menos nos posts:

- Eu só não começo a fumar porque o twitter, a vodka e a depressão já batem a minha cota de vícios

- Eu quero Jeeeeeba!

- Tô tentando me tornar um ser humano melhor. Tô tentando ficar rica.

- Procurando um amor pra chamar de meu = procurando alguém pra fazer sexo de graça.

- A Maria da Penha me bateu. Pra quem eu devo recorrer agora?

- A diferença da minha vida pra um monte de lixo é que pelo menos o lixo pode ser reaproveitado.

- Nos pequenos frascos estão os piores venenos, sua pirigótica! (NR: periguete com gótica)

- Acho que o Jose Cuervo deveria dividir a conta às vezes. Só eu pagando esta me levando à falencia.

- Tanta gente querendo enlarge o pênis e vocês encurtando url.

- Qual a diferença da minha vida pra uma lata de merda? A lata!

- Ai gente, mais 100 followers eu completo 2000 mil pessoas que não me comem!

- Minha ex-professora de Física? Eu comeria.

- Gente, sofro do mesmo mal. Que bom que eu sou bissexual safadinha e cato geral!

- Eu sou daquelas que não conseguem entender mais nada desde primeiro ano do ensino médio

- Aqui é muito tweet e pouca piroca!

- "Um por todos e todos por um". Isso pra mim é suruba.

- Oi, meu nome suicídio e eu faço parte do programa alimente-se bem com cianureto.

- Eu fico com mais ressaca moral quando falo sóbria do que do que falo bêbada. Eu nunca lembro do que falo bêbada.

- Preciso de sexo, vou começar a cobrar. Já tô fodida mesmo, uma tequila ou um litro de vinho já pagam uma noite de prazer: pegar ou largar!

- Por que eu no posso hibernar como um mamífero de grande porte normal?

- Se auto-sabotagem fosse doença eu tinha morrido.

- Gata, eu fico me perguntando por que o Bin Laden no joga um avião desses em mim?

- Por que no lugar de depressão eu não posso ter um distúrbio psicológico mais útil, como a anorexia?

- Perto de você eu fico sem graça... Ainda mais perto eu fico sem vergonha.

- Nego acha que eu j dei pra muita gente!

- Enquete pras mulheres: vocês deixam de pegar um cara porque ele tem namorada?

- Uma salva de palmas pra você, que não tem comida em casa, mas tem vodka e licor na geladeira.

- Não quero casar; quero sex.

- vamos brilhar no escuro e pegar uns vampiros gays.

- Olha, xoxotação tem limite.

- Tô me sujando toda de leite aqui e nem sei se é de uma maneira sensual.

- Minha vontade é ir trabalhar com a mesma roupa de ontem e ainda pagar de gatinha, com todo mundo achando que eu fiz sexo.

- Dose quádrupla. Procurem-me numa valeta no final da festa.

- Fantasia sexual é que nem cheiro de cocô: a gente só acha normal quando é da gente

- Quinta tô aí. Vamos arrasar na noite. Tô solteira e quero homens.

- Antes morrer de cirrose do que morrer de obesidade.

- Tem gente que pensa que tudo que escrevo aqui é sério. Façam 1000 favor!

- E não me encham o saco com essa historia de Dunga.


@_lulafalcão

sábado, 19 de junho de 2010

Bastidores do twitter - II

@ Uma área de, digamos, entretenimento, faz sucesso no twitter: é o @fuckmeplease. Uma moça de Brasília (ou “Braaaaaaaaselha”, como prefere) bota pra quebrar e todos torcem para que ela e suas convidadas movidas à vodka passem do limite na tuitcam. Quem o fuckmeplease segue: @FuckingA_M, @despirocancia @edutestosterona, @amapopinha e @manomenezes. Só uma curiosidade: o que é “arroizar”?

@ Muitos tuiteiros só escrevem sobre coisas de sua cidade ou seu estado. Tudo bem. O problema é que em época de eleição só quem tem uma planilha das campanhas estaduais pode decifrar o que estão eles estão dizendo. Mais grave ainda é o caso dos colunistas sociais. A maioria não conhece, por exemplo, as socialites de Campo Grande.

@ Divulgação global conseguiu o escritor Frederico Barbosa (@fredbarbosa). Num post, lamentou que ninguém na áfrica do Sul, lembrou de informar que o poeta Fernando Pessoa passou parte de sua vida naquele país. Imediatamente, ele, Galvão Bueno, leu o post. Direto de Durban.

@ Para entende melhor o twitter é preciso seguir avatares que parecem bobos, mas revelam o comportamento dos jovens brasileiros, suas aspirações e desejos. Sempre mais desejo do que aspiração. Uma descoberta (sem valor científico): mesmo os homens temperam o clamor por sexo com a procura de uma saída para a solidão.

@ No twitter, todo mundo já sabe. Fora dele, talvez não: boa parte dos tuiteiros que aparecem com centenas – às vezes milhares - de seguidores conseguiram juntá-los apelando para sites como o maisfollowers. net/. Não tem graça. É como a torcida da Coréia do Norte, no jogo contra o Brasil. Formada por chineses contratados.

@ Uma moda que pegou. Pelo menos em São Paulo: juntar uma galera para uma tuitagem coletiva. Com muita cerveja e baseados. No dia seguinte, é feito um balanço do estrago e de alguns bons momentos, também.


@_lulafalcao

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A Copa na redação

Durante a Copa todas as nossas energias estão voltadas para a Copa. Outro assunto parece não ter chance de prosperar ou comover. Até 11 de julho será assim. Carros embandeirados, impropérios contra Dunga, Cala a Boca Galvão, corre-corre para não perder o jogo, cerveja, TV, mesa redonda, fogos, vuvuzelas e Brasil-zil!

Nesta época, o copismo é ainda mais grave numa redação de jornal. Lá a convergência para a Copa parece maior. Todas as editorias estão enlouquecidas atrás de pautas sobre futebol e seleções. Na seção de esportes, tudo bem. É o grande momento. O caderno ganha reforço de pessoal (quase todos os colunistas) e de páginas. O problema é achar um viés do torneio que caiba, por exemplo, no caderno agrícola. “Na Copa do México fizemos uma matéria sobre o Naranjito, mas agora não temos nada”, queixa-se o editor.

O caderno de Turismo já achou sua chamada de capa – a África do Sul. A repórter de gastronomia fará, pela terceira vez, um texto sobre comidinhas da Copa. “Vamos de manga com kiwi, pelo menos é verde e amarelo”, diz a moça. Moda: o casaco do Dunga, de Alexandre Herchcovitch, veio a calhar. Saúde: quantas calorias perdem os jogadores durante a partida e, claro, aquela recomendação que vale para o carnaval, o vestibular e a gripe suína: “tome bastante líquidos”. Diversão: bares com telão. Cidades: trânsito nos dias de jogos do Brasil. Informática: os melhores sites sobre futebol. Celebridades: Roberto Justus verá a Copa na Praia Grande. Economia: Copa dará prejuízo e, finalmente, política: onde estavam Serra e Dilma em 1958? “68”, pergunta o estagiário. “Não, essa já fizemos e nesse ano não teve copa”, responde o editor.

Com todo mundo querendo falar sobre a Copa, o transtorno se estabelece na redação. Bem que o tema poderia ficar restrito ao caderno de esporte, mas não dá. A insignificância baixa sobre outras editorias, a inveja rói aqueles que não foram para a África do Sul e o futebol se transforma na razão da existência.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Bastidores do Twitter

@ Não se sabe a razão, mas uma moça atritou-se com outra diante do público virtual, a conversa começou a engrossar e, de repente, uma das contentoras sapecou: “Te conheço. Você vive se masturbando no MSN”. A parte ofendida resolveu contratar um advogado – ou pelo menos disse que contrataria.

@ O twitter pode parecer um lugar inadequado para o namoro. Mas rola. Namoro e brigas. Juras de amor cifradas e fins de casos. “Nunca mais quero te ver na minha casa nem no meu twitter e já deletei suas DMs”, escreve ela. Block. Separação real e virtual.

@ Política. Partidários de Dilma e Serra estão em pé de guerra. As mulheres dão razão às pesquisas e são elas as mais veementes adversárias da candidata do PT. A discussão, no entanto, pode resvalar para temas mais amenos e eis que os dois – uma Serra, outro Dilma – marcam um encontro no Shopping no Dia dos Namorados. O que se seguiu está fora do alcance da tecnologia, pelo menos por enquanto.

@ A campanha eleitoral nem sempre termina com sussurros ao pé do ouvido. Está mais para rinha de galo. Nesse item, o vocabulário é imenso: porco fascista, reacionário, capacho da direita, petralha, esquerdóide, feio, bobo e chato.

@ Mentira. “Tenho carinha de menina, mas sou muito sapeca”, informa Alice, 56 anos, casada, três filhos, dois netos.

@ Na falta de frases próprias, a solução é citar. Clarice Lispector e Mario Quintana se reproduzem como coelhos em tuítes e retuítes. Do último, repetida ad nauseam, está o “Poeminha do Contra” (“Eles passarão. Eu passarinho!”). Em muitos casos, o dito é atribuído ao autor errado. Sorte de Millôr Fernandes e Arnaldo Jabor, que invariavelmente ficam com os créditos.

@ O noticioso. Como agora todos somos jornalistas, poucos resistem a dar um “furo”. Trata-se simplesmente de reproduzir o que os sites acabam de informar. Até ai, OK. O problema é quando o cara chega meio desatualizado ao twitter para comunicar a morte de uma celebridade, cuja missa de sétimo dia foi realizada ontem.

@ A vendedora só disfarça uma vez ou outra com comentários que não têm nada a ver com seu negócio. O resto do tempo é publicidade pura. Tudo bem. Enquanto uns vendem idéias e ideologias, ela vende tops e legs.

@ E por fim, o organizador. Este tem por princípio pôr ordem na casa, decretar normas de comportamento, orientar os neófitos, moderar comentários, evitar mal estar, assegurar o bom andamento do debate, propor temas, criar hastags e listas, explicar a nomenclatura, fornecer a previsão do tempo e dizer que horas são. Trabalhadores incansáveis, mereciam um salário.

@_lulafalcao

sábado, 12 de junho de 2010

#Calaboca Galvão

Ao transmitir a abertura da Copa, o locutor Galvão Bueno, da TV Globo, transformou-se involuntariamente em celebridade internacional. A palavra de ordem “Calaboca Galvão” – ou hastag, para ser mais exato -, ganhou o mundo e alcançou o primeiro lugar no trending topics do Twitter, provocando uma onda planetária de curiosidade. Quase imediatamente, os tuiteiros do Brasil começaram a receber especialmente em inglês, perguntas sobre aquela frase: “É um pássaro símbolo da Copa ou uma nova música de Lady Gaga?”, perguntou um cidadão da Califórnia, por exemplo.

Para os Estados Unidos, tão distantes do futebol, soou estranho que “Calaboca Galvão” fosse apenas uma brincadeira com o locutor de maior audiência no País. Foi como se estivessem nos descobrindo naquele momento, com certa perplexidade sobre a capacidade de o Brasil influir, nesse nível, nas estatísticas da Internet. O próprio Galvão, ao sentir que sua antipatia virara hit, embarcou na onda, relacionando o caso à grande audiência da Globo.

Quase todos nós ajudamos a criar, sem querer, um grande case de marketing viral para a emissora.

@

O futuro da tecnologia não é mais especulação ou ficção científica. São cenários que se tornam realidades. O que virá amanhã, já está previsto hoje, com detalhes, faltando apenas uma peça que, em pouco tempo, ficará pronta. As empresas trabalham com previsões seguras. A própria ficção também. Ambas montam protótipos que certamente estarão à venda em breve nas melhores casas do ramo.

A Internet é um bom exemplo. Tudo que se usa hoje já foi pensado anos antes. Programas, ferramentas e aparelhos surgem do dia para a noite, num processo contínuo de substituição, que exige atualização permanente dos usuários. Tudo é mais rápido. O que está hoje na ponta no dia seguinte vira sucata.

A maioria das pessoas observa esse processo de longe – passivamente.


@_lulafalcao

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A triste história da Jules Rimet

Para marcar a Copa do Mundo, que começa nesta sexta-feira, segue texto sobre a Taça Jules Rimet, conquistada defintivamente pelo Brasil em 1970. Só que é uma história sem final feliz.

A realização da Copa do Mundo foi decidida em 1928, durante o Congresso da FIFA em Amsterdam. Na época surgiram seis países candidatos a realizar o primeiro certame: Hungria, Itália, Holanda, Espanha, Suécia e Uruguai. Já no ano seguinte, em Barcelona, a entidade já havia escolhido a data e o país onde seria realizado o torneio: 1930, Uruguai. Nada de inspeção em estádios, contratos milionários, obras de infraestruturas. O que pesou em favor dos uruguaios foi o prestígio de sua seleção, obtitido especialmente nas olimpiadas de 1924 e 1927. Dois outros fatores de peso: o centenário da Independência do pais e a disposição da federação local em meter a mão no bolso. Naquele tempo, o Uruguai era conhecido como “Suíça sul-americana", por seu jeito de país desenvolvido, com índices sociais da Europa.

Decidida a promoção do mundial, faltava providenciar algo bem importante: o troféu. A tarefa foi entregue ao artesão Abel Lafleur, em Paris. A taça Jules Rimet ficou pronta em abril de 1929, e os gastos para sua confecção chegaram a 50 mil francos, uma fortuna para a época. Só em 1946 ela passou a se chamar Jule Rimet, numa homanagem ao presidente da FIFA.

O troféu representava uma Vitória alada, levando em suas mãos, levantadas sobre a cabeça, um vaso octogonal em forma de copa. Era de ouro puro com um quilo e oitocentos gramas, e seu peso total correspondia a quatro quilos, com trinta centímetros de altura, incluindo a base de mármore em que se apoiava. Ao seu pé, ao longo dos anos, iam surgindo placas especiais, com o nome gravado dos vencedores dos mundiais realizados até 1970: 1930 (Uruguai), 1934 (Itália), 1938 (Itália), 1959 (Uruguai), 1954 (Alemanha), 1958 (BRASIL), 1962 (BRASIL),1966 (Inglaterra),1970 (BRASIL).

A Jules Rimet, no entanto, teve uma existância atribulada. O belo troféu que havia sido mantido escondido na Segunda Grande Guerra Mundial pelo desportista italiano Otorino Barassi, depois foi roubado na Inglaterra, em 1966, mas logo recuperado. Infelizmente desapareceu da sede da CBF, no Rio de Janeiro, no final de 1983, 13 anos depois da conquista do Tricampeonato pelo Brasil. Para tristeza dos desportistas brasileiros, a imprensa anunciou no dia 28 de janeiro de 1984 que a taça Jules Rimet havia sido derretida no dia seguinte ao roubo, junto com outros troféus ganhos pelo futebol brasileiro.

_lulafalcao

terça-feira, 8 de junho de 2010

Velhice, Copa e Paraíso

O politicamente correto afligiu todas as faixas etárias, mas foi particularmente impiedoso com os velhos. Incluí-los na chamada “melhor idade”, com fazem as locutoras de aeroporto, é um escárnio. Melhor ser claro, direto e seco como o escritor Philip Roth: “a velhice não é uma batalha; a velhice é um massacre”.

@

Em 1974, o artesão Silvio Gazzaniga ficou trancado em seu estúdio, na Itália. Comia ali mesmo. Quase não dormia. Ao final de uma semana, ele tinha confeccionado um dos objetos mais desejados da história: a taça da Copa do Mundo. Feita de ouro puro, com malaquita semipreciosa em sua base, a taça, de 36 centímetros, não foi tão cara. Custou U$ 20 mil. Por pouco o troféu não ganhou outro nome: Taça Palé. Não se sabe por que a FIFA mudou de idéia.

@

A revista Piauí deste mês traz uma história da pesada sobre Adão e Eva – “Prevaricações Primevas”, de Reinaldo Morares. O texto de ficção descreve o Paraíso e seus primeiros moradores com altas doses de humor e blasfêmia. Conta, por exemplo, que a primeira relação sexual dos ancestrais do homem (pelo menos segundo a Igreja Católica) não foi, digamos, da forma mais convencional. O Adão de Moraes sempre esteve de olho em Eva, desde que ela surgiu de sua costela, “mas, e a coragem para peitar o Excelso Barbaças?”. O nosso ancestral, no entanto, termina traçando Eva a partir de um acidental 69 – o primeiro do universo -, seguido por sodomia. “E eles viram que efervescer em mútuas devoções urogenitais era bom – ‘bom pra caralho”, conforme escreveriam Adão e Eva em suas memórias (sim, no conto de Moraes eles escreveram memórias). Bom, depois Deus ficou puto com aquilo (ninguém sabe por que o interdito em relação ao sexo) e expulsou os dois do Paraíso. O resto é sabido. Ao final da leitura, em que Moraes expõe contradições do Velho Testamento, conclui-se que a criação do Mundo, tendo Adão e Eva como protagonistas, é uma das histórias mais mal-contadas de que se tem notícia.


@_lulafalcao

sábado, 5 de junho de 2010

Os blogs morreram?

Tudo o que o cientista Silvio Meira fala ou escreve sobre a Internet é para ser levado em conta. Talvez ele seja hoje o nome mais respeitado do País nesse campo. Por isso, na semana passada, causou certo rebuliço sua afirmação de que os blogs morreram. Segundo ele, quem escreve em espaços como este aqui, está destinado a ter como leitores apenas a família e uns cinco amigos e amigas. Claro, os blogs vão acabar, com a própria Internet e nossas vidas, mas a notícia soou um pouco exagerada para quem considera a blogosfera ou coisa que a valha como meio mais afeito à cultura do que à tecnologia.

Existe, então, uma cultura blogueira? Existe assim. Para muitos que escrevem com frequência - mesmo que apenas para os amigos ou sua comunidade – os blogs estão acima (ou abaixo, sei lá) da discussão diária e angustiante sobre as grandes novidades de amanhã que substituirão as coisas de hoje. A maioria não mantém ilusões de tornar-se um campeão de audiência, mas há muitos blogs independentes que alcançam um número considerável de leitores, muito, muito além do grupo de amigos. Mil pessoas interessantes lendo o que eles escrevem já está de bom tamanho.

Em matéria do jornal O Estado de S. Paulo, Rodrigo Martins e Ana Freitas afirmam que o blog, como ferramenta de publicação, ainda darão um caldo. “Mas as a blogosfera, com a figura do blogueiro, essa pode estar no fim”, salientam. Com o aparecimento de Flickr, YouTube, redes sociais e, mais recentemente, Twitter, Tumblr e companhia, "o blog acabou não sendo mais necessário para, por exemplo, compartilhar links ou postar fotos", acrescentam. Vale dar uma olhada aqui.

Os blogs, portanto, não morreram. Como Elvis e Lennon, estão vivos. Pelo menos simbolicamente, às vezes como estilo de vida e na maioria dos casos apenas como depósito de idéias. No final de seu artigo – aliás, escrito em um blog – Silvio Meira ressalta que a morte da blogosfera não significa a morte da escrita na rede, que ainda estaria nascendo. “Falta muito pra que se saiba o que estamos fazendo. Mas este não é o problema. Vamos continuar fazendo e tentando descobrir…”, observa o cientista.

Pois é. Enquanto não nasce o substituto dos blogs, eles vão continuar existindo, mesmo como mortos-vivos - inconformados com o fim inevitável, mas conscientes de que este é o destino de tudo e de todos.

_lulafalcao

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Presidentes, eleições e copas

Quem foi o presidente brasileiro que mais ganhou copas do mundo? A pergunta ganha algum sentido porque a coincidência do torneio com as eleições sempre suscita outra pergunta: se a seleção vencer, qual candidato será beneficiado. Pela lógica seria o do governo. Mas nem sempre é assim. Nem mesmo na guerra é assim. Winston Churchill, por exemplo, ganhou a mais pesada de todas elas, a Segunda, e em seguida perdeu a eleição na Inglaterra.

No Brasil, em termos futebolísticos, o mais azarado foi Getúlio Vargas, que passou 18 anos no poder, à custa da ditadura do Estado Novo, e não chegou a ver uma única vitória do Brasil na Copa. Perdeu as de 1934 e 1938. Teria mais chances se a Guerra – 1939 – 1945 – não tivesse cancelado a disputa de 1942. Getúlio voltaria ao poder, pelo voto, em janeiro de 1951, mas se matou dois meses depois de o Brasil ver a seleção de Julinho, Didi e Nilton Santos ser derrotada em 1954 (Não foi por isso, claro, que ele deu um tiro no coração). Antes dele, Washington Luis já havia perdido a de 1930 e, depois do Estado Novo, Eurico Gaspar Dutra saiu-se derrotado na mais trágica de todas as copas – a de 1950 -, quando o Brasil deixou escapar o título na final com o Uruguai. Em pleno Maracanã.

Em 1958, quando o Brasil ergueu a Jules Rimet pela primeira vez, o presidente era Juscelino Kubitschek. Quatro anos depois, João Goulart ganhou a copa, a de 1962, mas não deu sorte. Foi deposto pelos militares em abril de 1964. Na de 1970, o a do Tri, quem governava o País era o general Emílio Garrastazu Médici. Outra vitória mundial só viria em 1994, durante o governo de Itamar Franco. Sorte dupla de Itamar, que era vice de Fernando Collor e assumiu a Presidência com o impeachment do titular.

Na história recente, Fernando Henrique, que não gosta muito de futebol, levou a de 2002, e Lula, que adora, perdeu a de 2006 e torce para que a seleção volte da áfrica do Sul com o título. No íntimo, deve levar em conta esse placar desfavorável em relação a FHC, mas ainda tem chances de sair do cargo com um título. Com certeza sonha não apenas com vitória de Dilma, mas com o triunfo de Dunga.

O moral da história, se é que deveria ter alguma: as copas pouco influenciam a política, que é jogada em outros gramados, muito mais congestionado do que o meio campo da atual seleção. Outra conclusão, só a título de curiosidade: nunca, na história deste País, um presidente foi bicampeão.

@_lulafalcao

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ariosvaldo, o político de centro

Não é fácil ser de centro no Brasil de hoje. A maioria dos partidos se declara de esquerda e mesmo parte da direita também aderiu ao esquerdismo, vide José Sarney, Renan Calheiros e Jáder Barbalho. Nesse cenário confuso, a figura esquálida de Ariosvaldo D’Almeida, líder do Partido do Centro Democrático (PCD), é quase uma exceção. Diplomado em Letras, ele teve a sorte de herdar uma padaria do pai. Caso contrário teria dificuldades até de arranjar emprego. Cargo comissionado, então, nem pensar. “Ninguém confia na gente”, lamenta. “Além disso, nossas bandeiras são quase todas confiscadas pela direta ou pela esquerda quando chegam ao poder”, acrescenta. Ariosvaldo é o terceiro entrevistado da série de candidatos cujos partidos não conseguiram registro no TSE.

Por que o centro?

Já me fizeram essa pergunta várias vezes e sempre digo que é uma posição de equilíbrio político e bom senso. Mas não acreditam. Sempre afirmam que estamos em cima do muro. Outro problema é a falta de charme. A esquerda, por exemplo, tem até hino – a Internacional. A direita tem o Reinaldo Azevedo. Nós não temos nada. Nem um discurso inflamado podemos fazer. No centro tudo é bem comportado. Não acusamos ninguém e ninguém nos acusa. Na verdade, somos ignorados. O centro é um tédio.

Por que então o Sr permanece no centro?

Sou assim desde criança. Fui um menino moderado. Nunca amei ou detestei ninguém. Nunca bebi, fumei ou usei drogas nem critiquei com veemência quem fazia essas coisas. Passei a vida sem ser notado. A família também era assim. Minha mãe ficava repetindo frases típicas do centro: “nem oito nem 80”, “nem tanto ao nem tanto a terra”. Essa era a ladainha da minha casa.

Qual a importância do centro hoje?

Quase nenhuma. A Internet retrata bem nossa situação. Enquanto a Wikipédia usa 759 caracteres para nos definir – e, pior, para nos comparar ao PMDB -, a esquerda tem 5.118, sem contar os inúmeros links. Já a direita é dona de 7.854 caracteres.

Quais os grandes teóricos do centro?

Sempre que citam alguém, ele é puxado para a esquerda ou para a direita. É o caso de Joaquim Nabuco. A direita ficou com seu lado monarquista. A esquerda pegou o abolicionista. Talvez nosso melhor nome seja François Bayrou, da França, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno das presidenciais de 2007, detonado por Nicolas Sarkozy (direita) e Ségolène Royal (esquerda). Para fazer jus à sua posição política, Bayrou preferiu não dar orientação de voto a seus eleitores. No Brasil, um dos poucos homens de centro que conheço é o Dunga. Com ele não tem esse negócio de defesa ou ataque. É todo mundo no meio de campo.

@_lulafalcao

terça-feira, 1 de junho de 2010

A candidata dos chiques e famosos

Na série de entrevistas com candidatos que não vão concorrer a presidente em 2010, a vez é de Maria Isabel Lescot, do Partido do PIB Nacional (PPN). Belzinha, como é mais conhecida, acha que, finalmente, chegou a vez de os ricos terem sua própria voz no governo. Como não obteve registro no TSE, seu partido mesmo assim terá convenção informal, numa ilha de Angra, para discutir estratégias e fofocar um pouco sobre pessoas de nossa elite que preferem alianças com candidatos sem berço a estar com os seus, de preferência na companhia de um champanhe Perrier-Jouët (4.116 euros a garrafa).

Como a Sra. pretende se eleger com tão pouco eleitores?

È preciso deixar claro que o PPN não é um partido para quem quer; é para quem pode. Exigimos dos nossos militantes - que prefiro chamar de “sócios” - uma renda satisfatória, etiqueta, bons contatos e ótima aparência física. Não por acaso, estamos sustentando nossas idéias no site Diamond Lounge, que só aceita ricos, famosos e bonitos. Com algum dinheiro – e isso não é problema – poderemos convencer os menos aquinhoados que aquilo que eles levam não é vida. Não recusamos os votos dos pobres. Apenas não queremos nos misturar com eles.

Como começou o PPN?

A idéia surgiu num chá em minha casa, nos Pirineus – onde, aliás, sou vizinha de Paulo Coelho. A princípio, usei a pensão do meu primeiro casamento para comprar material de campanha – tudo de grife. Aos poucos, começaram a chegar as amigas, com coisinhas para um bazar. Teve até um quadro daquela menina, a Beatriz Beatriz Milhazes, que é uma fofa.

O que a Sra. tem contra os atuais partidos, especialmente o PT?

Eles falam muito em classe, mas quando a gente vai ver direito, não tem nada a ver com classe, elegância, postura. É outra coisa. A tal classe social. Sem contar que o presidente é muito rude. Garanto que não sabe usar talheres corretamente nem distinguir um Hermitage La Chapelle (1961) de um vinho de garrafão.

Como não conseguiu o registro do PPN, quem a senhora irá apoiar em 2010?

Estamos quase fora. Agora só em 2012, quando poderei concorrer a um cargo qualquer, nem que seja a Prefeitura de Campos do Jordão. Tenho uma casa lá, que pode ser transformada em comitê. Basta uma forcinha do meu amigo João Armentano na decoração. Nesta campanha para presidente, vou ver o que faço. As opções são poucas: o feirante da Mooca, a moça que veio do mato e aquela ministra, que precisa dar uma passadinha na Via Montenapoleone, em Milão, para renovar o guarda-roupa. Achei aquele senhor do PSOL muito distinto. Tem aquele negócio de povo (isso todos têm, é uma praga), mas pelo menos é católico.

@_lulafalcao