quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lula e a lista da Time

Primeiro disseram que Lula era o primeiro da lista e depois disseram que a lista não tinha primeiro. Nem segundo nem terceiro. Basta acompanhar o twitter para sentir o peso da decepção de uns e a alegria de outros. Houve quase uma comoção nacional. O Brasil só gosta do primeiro e, no caso de Lula, pelo menos para os petistas, é como Copa do Mundo. Nem o segundo lugar serve. Essa colocação em 3 de outubro, então, seria um desastre.

Pois bem. A notícia certa (acho) foi a de que a revista Time tinha eleito um time de 100 nomes de pessoas mais influentes do mundo em diversas áreas, mas sem, como se diz, “ranquear” ninguém. Não havia colocação. Lula estava lá em companhia de Lady Gaga e de outros menos votados. Pior: é a segunda vez que o presidente brasileiro aparece nessa relação de celebridades. Mas acho que só perceberam agora.

A partir dai a notícia começou a perder importância nos sites, mas o assunto não parou de render. Passaram a falar mal da imprensa – “foi uma barriga” etc e tal – e o caso ainda tem chances de gerar gozações, charges e debates ideológicos. Só que até agora ninguém observou um fato que me parece central: existe coisa mais chata do que esse costume americano de fazer lista de tudo quanto é coisa?

_lulafalcao

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Do Pronac à estreia

Fazer um filme no Brasil não é fácil, especialmente quando é feito por gente que curte cinema de verdade, respira cinema, mas não dá muita bola para o mercado. Divulgar até divulga - e desde cedo. Hoje, até quando o projeto é aprovado no Ministério da Cultura, os produtores saem à imprensa para anunciar a boa nova. Ter o Pronac – o número de inscrição na Lei de Incentivo à Cultura – já é motivo de festa.

Mas a partir daí começa a dramática fase de captação de recursos. Nesse ponto, mais do que em qualquer outro, é preciso divulgar. A imprensa publica algumas (poucas) notícias do filme que será feito, os empresários leem, os governos estaduais leem e, mais importante, a Petrobras toma conhecimento do fato.

O grande dia. Começam as filmagens. O set é tomado por aquele clima de véspera de Brasil e Uruguai na Copa de 50. Até político bate ponto no set - caso tenha alguma atriz da Globo no elenco - ou chama logo todo mundo para jantar em sua casa ou no próprio palácio do governo. É quase uma dupla jornada de trabalho para a equipe.

Filme pronto, lançamento. Como o mercado brasileiro ainda é dominado por Hollywood e Daniel Filho, as coisas se complicam. Hora de passar e-mails para os conhecidos, tuitar bastante e contar com uma assessoria de imprensa esforçada e a preço camarada daquele jornalista amigo da galera. Depois, feitas as contas, descobre-se que o filme foi bem na mostra Un Certain Regard, em Cannes, mas só juntou sete gatos pingados no Unibanco da Augusta. Em quatro dias, saiu de cartaz.

Com algumas produções muito boas, o grande problema do cinema nacional pode ser não se perguntar, de vez em quando, porque não deu bilheteria. Algo está errado com o filme, com o público ou com um milhão de coisas que ficam no meio dos dois. O certo é que boa parte da produção cinematográfica brasileira atual tem cumprido uma trajetória que começa no Pronac e acaba na estreia.


_lulafalcao

domingo, 25 de abril de 2010

O blogueiro

O sonho do jornalista-blogueiro é manter-se à custa do próprio blog. Não é uma tarefa fácil para quem não dispõe de estrutura para lidar com breaknews e planeja fazer uma divulgação em larga escala de seu endereço na Internet. Quando depara com essa realidade, o candidato a dono do futuro conglomerado da comunicação online volta a seu espacinho sem audiência para reflexões do tipo “a mídia sempre será dos poderosos”.

Logo o blogueiro estará revoltado com a Rede Globo, puto com Sarney, enfurecido com Rubert Murdoch e querendo matar o Ricardo Noblat. Tudo porque seus seguidores não passam de 16 e, pior, ontem eram 17. É um drama pessoal de grandes proporções que justifica até mesmo alguma paranóia. “Será que não existe uma conspiração internacional contra meu blog?” ou “o Roberto Irineu Marinho não descansa enquanto não me destruir”.

O blogueiro diletante – caso deste que vos digita – vive consultando o Google Analytcs para medir sua popularidade mundo afora. Também posta mil e um links no twitter para ver se alguém se interessa. Quase sempre sai decepcionado. Alguém abriu seu blog em Taiwan, mas foi por engano, numa dessas coincidências que ocorrem a cada três mil anos. “E aquele meu leitor do Canadá, quem será?”, indaga-se. Logo recebe um e-mail da prima que mora lá, dando uma força por pura obrigação. No caso dos leitores da França nem precisa perguntar. São três amigos em Paris. A de Nova York é uma ex-namorada e a de Barcelona, ex-colega de trabalho que você nem acha bonita.

O certo é que é difícil fazer um blog decolar. É preciso dinheiro, publicidade, marketing e você só tem grana para contratar um homem-sanduíche. Pode ser que um dia os poderosos dividam seu espaço com a gente, mas vai demorar. O blogueiro não deve – nem pode - ter pressa. Enquanto aguarda o juízo final da grande imprensa escreve para as mesmas pessoas de sempre – um grupo muito seleto que você passará a chamar de “formadores de opinião”. Nele estarão os amigos, a família e uma garota do Belenzinho que, por ser a única seguidora desconhecida, é tratada a pão-de-ló.

_lulafalcao

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Brasília

Morei em Brasília quando era criança. Voltei a Brasília muito tempo depois como jornalista. A cidade da infância parecia distante. Só enxergava ali, nesse retorno, o centro do poder, um ponto obrigatório para repórteres de política. Só isso. Voltar a São Paulo, ao fim de três ou dois dias no Planalto era um alívio.

Não era quando a conheci. Foi a descoberta de um menino do interior que nunca tinha visto, por exemplo, alguém que tivesse nascido fora de Alagoas ou Pernambuco, meus dois estados natais, se é que isto pode. Brasília era acima de tudo a descoberta do Brasil, os sotaques diferentes dos gaúchos e cariocas, a paisagem cheia de novidades: o primeiro supermercado, o primeiro cinema decente, o primeiro ônibus, o futebol – nos vídeotapes vindos do Rio ou São Paulo ou no campinho da super quadra – e principalmente os amigos. Sob os pilotis, conversávamos sobre tudo e, um pouco mais tarde, também percebíamos sem entender direito a presença da ditadura, com prisões de vizinhos, prisões na UNB e até prisões de professores no colégio em que estudei.

O certo é que, durante anos, mantive certa antipatia com a capital. As visões da infância continuavam vivas e boas. As do repórter, nem tanto. No início dos anos 80 tive um sonho em que os gabinetes do Congresso se tornavam um amontoado de escritórios de contabilidade, clínicas de aborto, dentistas baratos e sex shops. O plenário abrigava moradores de rua. Eu estava contaminado por aquela ideia de que a cidade emanava corrupção quando, na verdade, era apenas o local para onde os corruptos de todos os estados convergiam para dar seu expediente.

Minha opinião talvez tivesse também a ver com a arquitetura. Os palácios que me deslumbraram na infância não seriam agora meio cafonas? O que é aquilo? Um monumento ou marco do modernismo. Investia contra a idéia de Brasília como cidade, usando argumentos lugares comuns, como a falta de esquinas etc e tal.

Hoje tenho uma impressão mais conciliadora. Concordo com o arquiteto inglês Kenneth Frampton, que assina o ensaio de apresentação do livro “Marcel Gautherot – Brasília”. Kenneth já esteve em Brasília em 1965 e antes de escrever para o livro queria voltar à capital. Voltou em 2002. Viu uma cidade diferente, com árvores já crescidas, o verde unificando as quadras, sinais de qualidade de vida. Mesmo assim, manteve sua opinião: a melhor obra de Niemeyer é anterior a Brasília. Em artigo no Estadão do dia 11, ele elogia prédios como o do Itamarary, mas acha que, no conjunto, a obra de Niemeyer é formalista demais. Mas, acrescenta: “nenhuma das cidades-capital contemporâneas fundadas após a 2ª Guerra pode se igualar a Brasília, seja pelo caráter monumental, geomântico, da sua concepção, quanto à subsequente rapidez de sua realização”.

Paradoxalmente vejo agora Brasília como uma cidade antiga, a cidade da infância e de seus alumbramentos. A cidade dos meus primeiros amigos da SQN 312. Dos quais nunca mais ouvi falar. Apesar de tudo foi uma sorte grande ter visto tudo aquilo surgir do nada diante dos meus olhos.

_lulafalcao

domingo, 18 de abril de 2010

O arquivo do Twitter

Na semana passada e nesta também li no twitter uma frase que me chamou a atenção: “tô com sono”. Escrita no meio da tarde por uma moça de São Paulo, a declaração fará parte do arquivo criado pela Biblioteca do Congresso norte-americano para reunir tweets públicos do mundo inteiro. No futuro, daqui a não-sei-quantos terabites, as novas gerações tomarão conhecimento que, no início do século XXI, o fato de alguém estar com sono merecia ser anunciado ao Planeta por uma rede que reúne milhões de pessoas. O repertório de nulidades tem outras observações recorrentes, tipo “Aê”, “Vou comer uma bolachinha” e “Tá tão quentinho aqui”. Nem discuto a importância de informações que podem, sabe-se lá, ter alguma utilidade - “e ai, rolou?” ou “aquela história ainda está de pé?”, por exemplo. Mas mesmo assim os historiadores terão dificuldades imensas em pesquisar se rolou e, principalmente, rolou o que. Isso se a História ainda estiver de pé.

Muitos especialistas se perguntam: por que arquivar o twitter? Resposta de outros especialistas, em texto do blog Bibliotecno: “até mesmo os 140 caracteres utilizados para promoção pessoal, para exibicionismo, poderão ter sua importância em uma análise sobre como a sociedade se relacionava e o que faziam em determinado período, o que indicaria que tudo que é publicado no twitter pode ter um uso futuro”.

Então tá. Mas voltando ao “tô com sono”. A frase aparece tantas vezes que, daqui a uns 200 anos, vão pensar que a população brasileira tinha sido vítima de uma epidemia causada pela mosca tsé-tsé ou coisa parecida. Sem falar em outras inserções mais enigmáticas, como “Marisete pediu penico”, “Biloca ficou com o resto” ou “era o de azul, com asma”.

_lulafalcao

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Corporativês

Ao ingressar no fabuloso mundo corporativo, o primeiro passo é aprender mais uma língua. Não é propriamente o inglês. É o corporativês - idioma composto por palavras estrangeiras, siglas, verbos que não existem nos dicionários e clichês como “agregar valor”, “impactar nos negócios” ou “otimizar” qualquer coisa. Nesse ambiente, você precisa ser proativo, saber fazer um “approach” (abordagem) e um “Business Plan” (plano de negócios) , além de entender o “Core business” (negócio principal da empresa). Em caso de dúvida, procure uma Coaching (sessão de aconselhamento) “as soon as possible” (o quanto antes). Só assim, você terá um “Consumer understanding” (conhecimento profundo do cliente) e ganhará um elogio do “CKO - chief knowledge officer” (o gestor do capital intelectual da companhia).

Se você entender o “briefing” (informações necessárias para uma ação) e estiver em “sinergia” com seus “parteners”, talvez consiga um “Breakthrough” (avanço em determinada área) e, no futuro, crie um “case” (caso de estudo da empresa) ou, pensando mais alto, chegue ao cargo de “CEO” que, no dialeto das empresas, significa “chief executive officer”.

Agora, se o “clima organizacional” não estiver legal, o “budget” (orçamento) for ruim, o “Break even point” (a explicação é longa; vá ao Google) não rolar e o “Business Unit” (unidade de negócios) der para trás, você será chamado pelo “CHRO - chief human resources officer”, que se encarregará da “descontinuidade” de seu contrato de trabalho, ou seja, da sua demissão. Nesse caso, você pode fazer um “Counseling” (aconselhamento de carreira) e decidir que seu negócio é mesmo um concurso público para fiscal do IBAMA.

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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Em 2015 você vai morar na Web



Para quem não pegou a história do começo ou perdeu o fio da meada, vale a pena dar olhada no vídeo acima (Epic). É uma linha do tempo da Internet, desde a criação da WWW por Tim Berners-Lee, em 1989, até o ano de 2015, mostrando o que vem por ai em termos de informação. Basicamente decreta o fim do jornalismo como o conhecemos hoje (num futuro próximo, por exemplo, os jornais serão individualizados. Além do horóscopo trarão a pressão arterial e o saldo bancário do leitor). Epic é um filme em flash feito por Robin Sloan para o Museu da História dos Meios. Para alguns pode soar como o fim dos tempos; para outros apenas como um admirável mundo novo em que todos terão acesso a todas as informações. O certo é que uns vão adorar e outros vão detestar chegar a 2015 dessa forma. Você estará informado sobre todo mundo e todo mundo estará informado sobre você. E nem será preciso entrar no twitter ou coisa parecida: um satélite rastreará seus passos 24 horas por dia. Portanto, comece a se comportar desde já. Daqui a pouco você fará parte de um BBB Global – mesmo contra sua vontade.

_lulafalcao

terça-feira, 13 de abril de 2010

Políticos e imprensa

No artigo acadêmico “Os meios de comunicação e a prática política”, Luis Felipe Miguel, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp e professor associado da Universidade de Brasília (UNB) faz observações interessantes sobre as relações nem sempre tranqüilas entre a mídia e os políticos. Nesta época de eleição é claro que a questão ressurge de forma mais visível. Alguns trechos:

- Parte da nostalgia da política pré-midiática se deve à ausência atual de "grandes líderes"... não à falta de candidatos a esta posição, mas "à superabundância de informações sobre eles", isto é, à exposição de suas falhas, vacilações e equívocos;

- É inimaginável que os meios de comunicação sejam os porta-vozes imparciais do debate político;

- O que se observa é que a visibilidade na mídia é, cada vez mais, componente essencial da produção do capital político;

- O caráter sempre mais mediatizado da comunicação política leva à adaptação do discurso político às regras da mídia, ao ponto de algumas interpretações indicarem que os "políticos de todos os matizes têm revelado uma tendência a descaracterizar seu próprio discurso e incorporar o estilo midiático", levando à pasteurização dos conteúdos.

- O discurso político precisa se adaptar ao novo ambiente gerado pelos meios de comunicação de massa, bem como a prática política incorpora os recursos que lhe são fornecidos pelas técnicas publicitárias e pelo marketing. Mas é uma apropriação seletiva, que pressupõe uma negociação tácita entre a mídia, que detém os instrumentos de produção da visibilidade social, e o político, que conhece ou intui os limites para além dos quais sua exposição pública se torna contraproducente.

- E quanto mais elevadas as posições de poder que se pretende alcançar, maior a necessidade de visibilidade nos meios de comunicação.


A propósito. Ou não, como diria Caetano Veloso: o sociólogo Manuel Castells afirma que os Estados têm medo da Internet porque perderam o controle da comunicação e da informação, em que basearam seu poder ao logo da história. “O Estado entra na privacidade das pessoas. E sempre o fez, com ou sem uma ordem judicial. Se quiser, nos vigia. Todos os governos do mundo o fazem. O novo é que agora nós podemos vigiar os governos”, observa Castells.

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mundo sem papel

Matéria da revista Época Negócios projeta um mundo sem papel. O texto avança a 2050 e mostra um grupo de crianças surpresas, na escola, ao ouvir que no início do século toras de madeira eram tiradas da floresta e transportadas por centenas de caminhões. A seguir, o professor do futuro conta que, disposto em bobinas, o papel atravessava o mundo em porões de navios e a viagem só terminava em amplos parques gráficos, onde, embebido em toneladas de tinta, o produto era usado na produção de jornais, revistas e livros.

A idéia é apontar para uma vida dominada pelos leitores eletrônicos de livros e jornais, cuja primeira versão, o Kindle, foi lançada em 2007 pela Amazon. A partir daí deriva para novos produtos, como o I-Pad e o Times Reader, por exemplo. No final, Earl Wilkinson, da Inma, responde à pergunta: a mídia impressa vai acabar? “Quando me deparo com esse tipo de questão, penso num homem, no início do século XX, olhando para um automóvel e querendo saber se, no futuro, ainda haverá espaço para o cavalo. Espaço existe, mas...”, observa Wilkinson. Segundo ele, a mídia impressa pode sobreviver, mas dificilmente será um veículo de massa por muito tempo.

Os sinais da nova era da leitura estão em toda parte. Nota-se, em primeiro lugar, a quebra de resistência de alguns intelectuais que viam o livro como algo imutável e quase místico. No final de semana, por exemplo, o jornalista Sérgio Augusto confessou, em texto no Estadão, que aderiu ao Kindle for PC. Ao redor do mundo, a mesma coisa. Joanne Kaufman, do The New York Times, enumera alguns casos de escritores que adotaram o book reader e acha que “a maioria dos autores pode estar disposta a deixar de lado quaisquer preconceitos”.

Para o jornalista Dagomir Marquezi (Info) quanto menos imitar o papel, melhor. Quanto mais for pensada digitalmente, mais rápida será a mudança. “Os conservadores seguirão fiéis aos livros impressos com tinta e costurados com linha. Serão cada vez menos. O resto de nós deve apertar os cintos porque a aventura mal começou”, observa.

As vozes dissonantes, claro, ainda são muitas. Em entrevista ao Estadão o pensador Umberto Eco afirmou que "o desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas". Eco comparou o livro a uma colher, a um machado, a uma tesoura, tipos de objetos que, uma vez inventados, não mudam jamais.



_lulafalcao

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Mídia da Maconha

No Brasil, a maconha pode estar longe da legalização, mas já existe uma mídia alternativa em luta aberta pela causa. São os casos dos blogs Hempadão, Filipeta da massa, Adão e Erva, Hemptube, Pé em Marcha, Growroom e da Rádio Legalize. O noticiário é variado: informações científicas, música, notas sobre a próxima marcha da Maconha e até promoções especiais, como o concurso da Miss Marijuana 2010, já com 14 candidatas inscritas. Também há fanzines, como o Tarja Preta, cujo principal personagem, o Capitão Presença, tornou-se um ícone do movimento.
A mídia da maconha apresenta-se como apartidária e multidisciplinar. Enquanto o Growroom é mais voltado para a defesa do plantio e da utilização medicinal da planta, a Rádio Legalize oferece variada programação musical, com destaque para o reggae e o hip-hop. De vez em quando, um flash no twitter: “polícia prende três em Nova Xavantina”, por exemplo. Já o Filipeta da Massa ainda repercute a morte do cartunista Glauco, especialmente para desancar a cobertura do caso feita pelas revistas Veja e Época. “O essencial é que essa mídia está se tornando um grande fórum sobre a questão das drogas”, afirma um assíduo navegador desses blogs.
Claro que não poderia faltar política. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um potencial aliado, já não merece tanta confiança dos veículos maconheiros. Tudo porque decidiu fazer silêncio sobre a revisão das políticas para o consumo de drogas até o final da campanha eleitoral deste ano. “Não podemos depender de ternos e gravatas”, lamenta o autor da matéria sobre FHC no Hempadão. “Nossa causa é urgente”. A área de comentários está lotada, com mais de 50 intervenções de internautas sobre a postura de Fernando Henrique. “Pode ser mera viagem minha, mas é foda”, lamenta um leitor. “Se eu fosse político, preferiria ficar em silencio durante a eleição e depois de eleito agir”, contemporiza outro.

_lulafalcao

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Do Twitter


Seleção de bobagens & outras besteiras escritas no twitter ao longo de três meses:

  • Deus fez o mundo em 7 dias e agora está tentando destruí-lo aos poucos.
  • Se seu horóscopo não está legal, mude de signo. Não tem problema. Afinal, "as pessoas seguem sempre o signo errado" (U.Eco).
  • Deus é bipolar.
  • Turismo: Brasil, belas praias, chuva o ano inteiro.
  • Poesia de Luciana Elaiuy, na Piauí: "A mentira tem pernas lindas"
  • "Minha filha, no meu caso só um acelerador de partículas", diz uma senhora em Copacabana. O assunto era tratamento de beleza
  • Macrobiótica: dois olhos grandes.
  • Nunca comece um texto assim: "Em um mundo globalizado como o nosso..."
  • Na padaria: "Como é mesmo o nome daquele joguinho de vocês?". A pergunta era sobre o twitter.
  • O jornal está aqui, na tela. O que explica o fato de eu querer comprá-lo todo dia, na banca?
  • Alemão sofre no twitter. Imagine ter que escrever "donaudampfschifffahrtsgesellschaftkapitänskajütentürschlüsselanhänger" .
  • Coréia do Norte libera a marijuana (da série “Manchetes improváveis”)
  • Twitter: o maior depósito de opinião do mundo.

· Quero os royalties da energia solar!

· Um dia cheio de lugares para não ir.

· Antigamente, a gente dava comida pro cachorro; hoje, alimenta o blog.

· O Segredo dos seus Olhos: quando os cineastas brasileiros conseguirão fazer um filme argentino?

· É difícil manter-se no fio de navalha entre o escracho e o politicamente correto.

· Em alguns jornais do País, só os pobres morrem; as pessoas importantes falecem.

· Por que não dividir os cemitérios em alas de fumantes e não-fumantes?

· Não se iludam. Toda essa movimentação de FHC a favor da maconha é só para fazer a cabeça do eleitor.

· A cada dia que passa o cinismo se torna mais útil.

· O cérebro humano é dividido em três partes principais: o hemisfério direito, o hemisfério esquerdo e o Google.

· Todo mundo quer ser cineasta. Haja Petrobras!

· Sindicato dos Tuiteiros reivindica aumento de 20 caracteres.

· Pré-carnaval, carnaval, pós- carnaval. Só falta agora o réveillon fora de época.

· Titeiro paranóico: “acho estão me seguindo...”

· Pior do que começar a ficar perto dos 50 é começar a ficar longe.

ilustração > h.koblitz

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terça-feira, 6 de abril de 2010

João Melo

João Melo é um personagem provinciado que se acha o máximo, mas sente-se modesto. Acredita piamente em sua capacidade de conduzir a humanidade a dias melhores e tem projetos grandiosos. Não vê possibilidades de sobrevivência da civilização Ocidental sem sua direta interferência. Ei-lo:

“Coisas aparentemente definitivas a meu respeito têm sido escritas neste espaço. Gostaria de absorver elogios com a simplicidade dos homens comuns. Aceitá-los com certa humildade e gozar alguns instantes do nebuloso prazer de pertencer à espécie humana. A sinceridade, no entanto, tem sido uma companheira voraz de meus momentos de reflexão. Concluo, pois, que estou além, bem adiante, muito acima dos
competentes comentários de qualquer discípulo involuntário. Mesmo os daqueles que me erguem altares como armadilhas.

Dizer que não pertenço a este mundo é pouco. Explicar porque gasto meu precioso tempo escrevendo para jornais de segunda linha é tarefa para póstergos. Caberia, então, um resumo de meus atos mais recentes. Um deles: finalmente conclui uma nova versão da Bíblia, trocando aquele senhor de barba pelo autor destas linhas. Claro, tirei a cruz da história por um certo horror a símbolos matematicamente óbvios e filosoficamente primários. O certo é que o Cristo não morre para nos salvar. Ele, assim como João Melo, continua em cena, nos dias de hoje, dando uma força aqui e ali em um mundo tão escasso de boas idéias. Tratei a coisa como um ensaiozinho de fim de semana, mas o número de seguidores do novo texto (novíssimo testamento) tem crescido de forma assustadora.

Mas não quero, como sugerem algunns, ser líder religioso. Meu negócio é outro. Algo ainda não encontrado. A verdade com orgasmos múltiplos. O sentido da vida em seis dimensões (o modelo está sendo testado em Genebra), o poder de influir, num mesmo minuto, na organização de um formigueiro, na cotação do dólar, no juízo final (não confio naqueles advogados) e na conformação dos planetas. Enfim, o universo tem ficado cada dia menor para meu atual estado de espírito. Dividirei tudo com vocês, caros leitores, e ainda ficará algo infinito só para mim. Mas tudo tem seu custo. Deus tem sido testemunha dessas minhas aflições e não por acaso passa por uma terrível crise depressiva. Ajudo-o como posso. Do seu,

João Melo”.


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sábado, 3 de abril de 2010

Correspondente de Guerra


Mais uma antiguidade. Pelo menos é deste século. Escrita para a Gazeta Mercantil, conta um pouco da história do correspondente de guerra português Carlos Fino. Foi ele o autor do golaço da RTP ao dar em primeira mão o início dos bombardeios norte-americanos em Bagdá:


Pelo menos até o início desta semana {março de 2003} , a língua portuguesa só tinha uma voz conhecida na cobertura de TV dos bombardeios em Bagdá – a do repórter Carlos Fino, da Rede de Televisão Portuguesa (RTP). Fino, no entanto, transformou-se numa das testemunhas mais isentas dos horrores da guerra num momento em que a mídia televisiva mundial praticamente dividiu-se entre a visão árabe do conflito produzida pela Al Jazira (Qatar) e a versão oficial passada por todas as TVs norte-americanas.

Carlos Fino brilha sob uma concorrência anódina para olhos e ouvidos mais críticos. A CNN, por exemplo, ganhou visual e conteúdo de apresentação em power point feita pelo secretário de Defesa dos Eua, Donald Rumsfeld. A NBC demitiu o veterano Peter Arnet – sua grife de imparcialidade - e a Fox News aderiu sem meias palavras ao delírio patriótico vestindo de jornalista o ex-general Oliver North, afastado do poder no escândalo da venda de armas ilegais ao Irã, em 1986, durante o governo Ronald Regan. Restaria a portanto a BBC para contar a história. Mas apesar do esforço em mostrar “o outro lado”, a emissora inglesa mantém um noticiário sem emoção. Fino, ao contrário, tem dado alma na cobertura, misturando flashes ao vivo – onde não faltam, claro, explosões cinematográficas - com reportagens sobre o cotidiano surrealista de uma cidade sob fogo cerrado.

“As crianças ainda conseguem jogar futebol pela manhã, depois de uma madrugada de bombardeios, e muitas lojas abrem suas portas”, diz o repórter responsável pelo o “furo” do primeiro ataque aéreo à capital iraquiana. De sua janela no Hotel Palestine, entre um míssel e outro, Fino transmite pelo videofone tanto boletins dos norte-americanos quanto a última declaração de assessores de Saddam Husseien. Sem precisar dizer muito – e longe de arriscar análises sobre as razões da guerra - ele consegue deixar bem claro que os lados podem estar mentindo. Só aposta no que lhe parece claro. Civis estão morrendo e o ar de Bagdá está carregado de fragmentos de chumbo deixados pelos bombardeios. Mas nem assim, cede ao impulso de aderir ao mais fraco. Não há heróis nem santos na guerra de Fino.

Numa sociedade do espetáculo, ocorreu então o inevitável. O repórter português tornou-se ídolo em seu país e, contrariando as regras do jornalismo, virou notícia. Na semana passada, a página da RTP na Internet estava congestionada de telespectadores mais ávidos por informações sobre Carlos Fino do por detalhes a respeito das estratégias do Pentágono. Quem é Carlos Fino? O que costuma fazer nas horas vagas? Será que ele está com medo?




Nome: Carlos Fino

Actividade: Jornalista

Estado Civil: Casado

Data de Nascimento: 24/12/1948

Naturalidade: Lisboa

Cidade onde vive: Lisboa

Desportos que pratica: Natação

Tempos Livres: Leitura, Cinema, Ar livre

Sentiu medo? Muito

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