quarta-feira, 17 de julho de 2013

O amor e outras doenças



O que antes a gente chamava de hábito, passatempo, hobby, hoje é distúrbio, vício, transtorno e síndrome. Para todos esses casos há uma infinidade de remédios, alimentando o grande ciclo da indústria farmacêutica. Criar uma doença para um medicamento, eis o que deve estar acontecendo. Agora, ninguém pode repetir nada e logo um monte psiquiatras cai em cima, cada um com um disgnóstico, e cada um com um comprimido diferente. Esses comprimidos custam muito caro.

Sem cair no panfleto ou na teoria da conspiração – e correndo o risco de replicar milhares de blogs pelo mundo - desconfio que os fabricantes dos medicamentos pensam muito parecido com os de shampoo e sua imensa variedade de compostos para cada tipo de cabelo. Ou o contrário: tipos novos de cabelos para novos compostos. Nos primórdios do shampoo, tinha para cabelos secos e oleosos. Depois foram se multiplicando com a criação de novas espécies de conformação capilar, passando dos problemáticos arrepiados e tristonhos aos que dispensariam shampoo - os lindos e maravilhosos.

Do cabelo para a doença, vejam só: se o cara tinha um costume antigo de estalar os dedos ou mau gosto de mascar um palito de dentes depois das refeições já pode ser enquadrado como portador de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Mas há gradações, características, peculiaridades, remetendo a conclusão que só uma mistura de paroxetina, dibenzotiazepina, cloridrato de duloxetina podem resolver o problema. Se o receituário falhar, há ainda uma droga nova nos Estados Unidos capaz de organizar o funcionamento dos outros remédios, tornando-os mais produtivos e eficientes. O resultado desejado é que o paciente não fique alegre nem triste. Fica com aquela cara de medicado.


Depois do Prozac – a Coca-Cola dos tranquilizantes nos anos de 1990 – germinou uma imensa gama de novos remédios para novos transtornos e depressões. Nem são tarja preta. O efeito começa a aparecer em uma ou duas semanas. Em sua mais recente versão, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais dos EUA (DSM)traz 300 patologias, não deixando espaço para uma pessoa ser considerada normal. Nessa lista, por exemplo, entra até o amor, capaz de provocar insônia, taquicardia, tensão muscular e alternância de períodos de letargia e de intensa atividade.