quarta-feira, 22 de junho de 2011

Celebridades

Nilza queria ser atriz pornô. Mas era mais culta do que gostosa. Seu primeiro vídeo amador, Ass cream, era uma tentativa de trocadilho com uma frase do filme de Jim Jarmusch. Tinha trilha de Karlheinz Stockhausen. Foi pouco visto nos cinemas do centro e não despertou tesão em ninguém. O segundo tratava de sodomia e mitologia grega. Confuso e brochante. Outro fracasso. Casou-se com um professor de Literatura Inglesa de uma universidade americana. Fez doutorado, tem dois filhos e três netos.

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Apolônio escrevia críticas devastadoras contra seu próprio livro. Assinava com pseudônimo. Queria criar polêmica. Mas até seus poucos conhecidos concordavam com ele. Virou blogueiro. Seus comentários contra o governo não deram resultado. Mudou de lado. Também não funcionou. Pedia a palavra em encontros de escritores. A platéia dormia e roncava. Apolônio enviava cartas à redação. Nunca foram publicadas. No final da vida pensou em se vender ao capitalismo, mas o capitalismo não quis comprá-lo. Apolônio morreu. Nenhuma notinha no jornal.

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Antônio, 32 anos, desempregado, teve duas idéias para sair da miséria: criar uma igreja evangélica ou uma ONG. Ficou com a primeira opção. Proclamou-se pastor, arrebanhou 20 fiéis e consegue sobreviver com uma renda mensal equivalente a dois salários mínimos.

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O sonho de Aderaldo era ser corrupto. Lia tudo sobre propinas, desvio de verbas e licitações fraudadas. Mas não tinha jeito pra coisa. Conseguiu o que parecia impossível: foi preso.

@_lulafalcao

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