sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A felicidade, portanto, é um perigo

@ A felicidade me deixa ansiosa porque sei que depois dela melhor não fica. A tendência é de baixa. Volta-se estaca zero ou cai-se numa pior ainda. Felicidade, portanto, é um negócio arriscado. Melhor manter a média, com algumas oscilações, dentro da margem de erro.

@ Por isso prefiro euforia e prazer. São sensações sob controle. Controle químico, na maioria dos casos, mas controle. Tomo umas, vem a ressaca; tomo outras, ela se vai. Uma pessoa pode viver assim durante muito tempo ou pelo menos enquanto fígado ainda estiver na garantia.

@ Depois, com a velhice, o que vier lucro. A velhice se satisfaz com pouco. De repente uma papinha pode ganhar a importância e o sabor de uma dose dupla de Absolut. Tudo é relativo. Pessoas que correm num campo aberto, feito a noviça rebelde, podem de fato estar felizes. Mas imagine ficar assim o tempo inteiro. Logo ela percebe o ridículo, cai na real e se deprime.

@ Antes da velhice total – a cadeira de balanço, o olhar perdido – existe uma coisa muito interessante para alguns: o pleno exercício da vaidade. Especialmente vaidade intelectual. Vaidade é legal. Por isso as pessoas escrevem, fazem filmes, entram na política. Gente gosta de ser admirada. Adora elogios. Depois de certa idade, então, é só isso que resta.

@ Eu sei, tem o amor. Você se apaixona por alguém que se apaixona por você. Perfeito. Os primeiros momentos são deliciosos, mas eis que o tempo passa, o barato se perde e até o sabor do beijo se perde também. O amor acaba ou, pior, se acaba só para um dos lados; o outro desaba, pede pra morrer, se desespera. Prevendo isso, nem tento. Atualmente, amor só comigo mesma. E olha que até assim tenho tido algumas decepções.

@ Da morte, no entanto, eu tenho medo, não vou mentir. A morte deixa a gente eternamente off-line. Doenças como o mal de Alzheimer também. Você esquece as senhas do twitter e do Facebook e mesmo quando entra neles não sabe o que está fazendo lá dentro. Mais grave: não sabe como sair nem porque entrou. Não sabe nem o que é aquilo.

@ A religião tem lá suas vantagens. Morreu, tudo bem, haverá um novo começo não sei onde. Um paraíso pra uns; uma reencarnação pra outros. Mas isso é pra quem tem fé. Eu tenho dificuldade em acreditar em vida antes da morte, quanto mais depois dela.


@_lulafalcao

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