quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O casamento e o processo criativo

@ Dramas morais, corrosão do caráter, traições, desastres, reviravoltas políticas, mutações genéticas, fim dos tempos. Pensei nessas coisas para o meu filme de estreia, mas depois de alguma reflexão resolvi resumir tudo num único tema: sexo. Queria algo entre Jacques Rivette e Buttman. Algum romantismo como pano de fundo para uma sequência de orgasmos. Com trilha sonora de Philip Glass e Amado Batista. Na verdade, não sei direito o que quero. Sempre penso no efeito antes da causa. Então sonho recebendo um Kikito (não sonho tão alto, né?) antes de escrever o roteiro.

@ Tudo isso para não depender a vida toda do marido, diretor bem-sucedido, excelente pessoa, mas péssimo na cama. Casada há poucos meses, descobri que amor e sexo não combinam muito – e que casamento e sexo combinam menos ainda. São quase incompatíveis. Além disso, a maioria dos homens não sabe o que fazer com uma mulher na hora agá. Tem uns que até começam bem. O problema é que deixam a obra inacabada. Meu caso é mais grave. A obra não existe. Nem sexo nem amor.

@ Então já estou planejando a retirada. Aproveito a influência do marido para entrar no mundo do vídeo e do cinema e, na sequência, cair fora e me virar por conta própria. Muita gente faz assim nesse meio. Reconheço que é uma sacanagem aterradora. Por sorte, me perdôo com facilidade. Tenho mais pena de mim do que dele.

@ Ocorre que as idéias não se encaixam, sou dispersa demais para começo meio e fim. A última tentativa de colocar um filme no papel resultou numa mistureba sem pé nem cabeça em que só se salvavam as trepadas. Se for assim, melhor entrar na indústria pornô. Pena que lá não precisam de roteiristas.

@ Outra coisa que atrapalha é o material que eu trouxe do sex shop onde trabalhava. Faltou assunto, recorro ao meu Vibrating Divine Dolphin. O twitter também é um embasso. Estraçalho meu projeto de roteiro em pedacinhos de 140 caracteres pra ninguém retuitar.

@ Mas chego lá. O negócio é inverter totalmente as prioridades. Vou terminar o roteiro e o casamento. Não preciso de amor e carinho. Meu negócio sempre foi sexo e isso eu resolvo sozinha. Preciso de patrocinadores. Neste momento, a Petrobras e o BNDES são mais importantes.


@_lulafalcao

2 comentários:

Kalinne Medeiros disse...

Lula, já disse que o chuveirinho resolve todos esses dramas pós-modernos, da infância à terceira idade.

Lula Falcão disse...

O chuveirinho resistirá a toda parafernália tecnológica.

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