domingo, 5 de abril de 2015

O cubo


O objeto estaria numa sala, num palco, enfim, diante de uma plateia, pois o homem preso no cubo ouvia ao longe o som de vozes, muitas vozes misturadas, alguns aplausos, causando uma onda em que nenhuma palavra era audível. Também poderia ser um som interno ou barulho vindo de qualquer canto, talvez até do espaço, e nesse caso o cubo poderia estar perdido no infinito, vagando sem destino.

O homem pensou: deve haver uma saída. Pensou logo adiante como fora parar dentro do cubo e por que um cubo e por que ele. Geometricamente não havia saídas. Nem ele poderia quebrar as paredes por falta de ferramentas. O homem estava nu.

Em tese, a história precisa de uma explicação sobre o homem preso no cubo, ou em qualquer canto, podendo ainda ser uma metáfora ou mera enganação. Mas isso é em tese. O nosso homem está preso no cubo por que está e pronto. Talvez seja uma singularidade ou um recurso para contar um caso, embora isso não seja o mais importante. Não há um caso propriamente dito. O homem está no cubo como um homem está numa quadro com o pescoço espichado além do padrão humano e ninguém pergunta por que – e se perguntou um dia não tinha tanta urgência por respostas.

De volta ao homem. Sua primeira providencia foi gritar. Ninguém ouvia. O som retornava para ele como se tivesse ricocheteado nos lados do cubo. Ouvia os sons retorcidos, mas não poderia ser ouvido. O único passatempo em sua prisão era pensar em cubos, especialmente no cubo mágico - o quebra-cabeça tridimensional inventado pelo húngaro Ernő Rubik, conforme a Wikipédia. Eram pensamentos que não interessavam muito naquele momento, visto que a questão do cubo mágico é resolvida pelo lado de fora. Ele estava num cubo oco, numa situação pelo lado de dentro, ainda não testada por nenhum dos 900 milhões de usuários atuais do hexaedro mais popular do planeta. Esqueceu o cubo magico.

Também pensou em matemática: A=6 ² V=a. Nada. Resolveu então, por instantes ou horas, esquecer o passado e imaginar que sempre estivera ali e ali era a única permanência que sua vida registrava.  Também seria uma pergunta a ser feita. Só não sabia a quem nem como. Não havia interlocutores. Não sabia como o era o lado de fora - e qual o pensamento do lado de fora a respeito de sua prisão no cubo? E se tudo não passasse de uma teoria sendo testada? O homem também especula.  
As dúvidas de ordem técnica e pessoal surgiam a toda momento para o homem preso no cubo, sem contato externo nem uma ideia própria capaz de apontar a saída ou resolver a equação, se tivesse uma, ou acordar do pesadelo, mas seu último sonho foi sobre circunferências, bolas e curvas sinuosas. O homem não estava louco. Estava dentro de um cubo.


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