domingo, 20 de novembro de 2011

No sol

No sol a pino, carregando suas sacolas com coisas sem importância, fica pensando em confortos. Um taxi e uma pizza, nessa ordem, seriam de bom tamanho, caso não tivesse caído na miséria de forma tão inesperada. Álcool, mulher e jogo não tiveram a ver com sua atual condição. A história é outra. Planejamento errado, perda de emprego, 60 anos, ausência de crédito e sumiço de parentes somaram-se todos e eis o homem no meio da rua. Não foi bem o desemprego que transtornou sua vida modesta, mas remediada. Simplesmente sua profissão deixou de existir, e com ela praticamente deixaram de existir os sete sujeitos que operavam a máquina na fábrica. A máquina, agora, opera sozinha.

Na terra

O personagem em questão é um desses plantados à terra natal, cheio de raízes, carregado de cultura nativa e popular, lotado de razões para acreditar naquilo que é nosso desde tempos imemoriais. Ele é avesso a estrangeirismos, mesmo os de seu país, pois tudo começou aqui, os mitos e os heróis, a história com suas revoluções, os ritmos, os ritos antigos e modernos. Tudo. “Fora desses coqueirais não há salvação”, ele diz, arrastando a provinciana certeza.

No Mar


Não viaje, Iraci, aqui tem o mar. Você desce e sobe a ladeira e sua casa não some da vista. A casa é grande, século 19, fachada bordada com o brasão da família. Lá fora, os meninos sempre dispostos a dar recados e levar pesos. A festa é constante, Iraci, e eu preparo sua cama e seu banho. De manhã, eu compro pães frescos e sirigüelas com hífen. Às vezes dormimos à tarde e temos um I-Pad. Pode ser assim para sempre. Não viaje, Iraci.

Um comentário:

Cristina Lopes disse...

Adoro seus textos. A leitura é sempre deliciosa. Abs.

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