quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O mundo do trabalho

@ De repente, me vejo de volta à vida offline. Arrumei um emprego. Desses de ir lá, sentar numa mesa, conversar com colegas, tomar café, contar oito horas e ir embora. Não é fácil. Espero o fim de semana como um crente espera a volta do Salvador. Mal comecei e já sonho com as férias. Tem carteira assinada, plano de saúde e vale-transporte. Muitas pessoas dão o rabo para obter tais privilégios. Eu simplesmente me sinto morta, num purgatório, esperando as férias, juntando FGTS e dormindo no banheiro.

@ O ruim do emprego convencional é essa chateação diária de acordar com hora marcada, pegar metrô, almoçar no quilo, pegar metrô, voltar pra casa, botar despertador, acordar e repetir essa rotina anos a fio. A empresa, na verdade, é uma prisão semi-aberta. Especialmente a que trabalho. Exigem resultados, fazem avaliações de desempenho e ainda colocam você naqueles joguinhos motivacionais panacas do RH: integração, trabalho em equipe, superação e a puta que o pariu. Além disso, tem as normas. Um dia disseram que minha roupa não era adequada ao ambiente. Só porque eu estava pagando peitinho. Por essas e outras é que muita gente termina se entregando às drogas ou ao comunismo.

@ Por enquanto, como já disse, um dos melhores lugares da empresa é o banheiro. Dá pra tirar uma soneca de uns 15 minutos ou fazer coisas ainda mais interessantes. Quando volto pra sala, suada, todo mundo pensa que estou passando mal. Mentira. Só nesses momentos fico mais ou menos bem. Um pouco relaxada. Ajuda a segurar a chatice do chefe. Aquilo não é um ser humano. Só existe pra trabalhar. Um dia colocam um robô no lugar dele e ele se mata. Deus queira.

@ O pior: não pode tuitar. Nem entrar no Facebook. A pessoa quer ver um site pornô, por exemplo, não pode também. Dá até demissão. Jogar paciência, nem pensar. É o dia todo preenchendo espacinho em planilha do Excel. Ai eu fico me perguntando: pra que instalaram Internet nessa merda?

@ Mais chato do que o trabalho é festa do pessoal do trabalho. Primeiro que o assunto é um só: trabalho. Depois não pode beber muito. Tem que ser umas duas ou três doses e olha lá. E ainda tem gente querendo ser melhor do que as outras e só toma guaraná. Dar um tapinha, como acontece em toda festa, está fora de cogitação. Qualquer exagero, fudeu. Então eu fico lá, calada, com cara de cu, só esperando a hora de terminar. Na saída, paro no primeiro boteco e me vingo daquilo tudo com meia garrafa de vodka.

@ Qual é então a vantagem de não levar uma vida virtual, como a minha vinha sendo, se coisas como sexo criam o maior constrangimento no chamado mundo do trabalho? Tem até um cara até que escreveu um livro, sobre o ócio, mas que não pegou. Acho que não é só de ócio. As empresas, no futuro, vão descobrir que uma esborniazinha de vez quando pode até influir na produtividade. É uma idéia.

@ Estou aqui há mês e pouco, mas parece que estou há anos. Não tenho o menor tesão por esse emprego e se continuo no calvário é porque preciso pagar o aluguel atrasado e quitar o pendura com o agiota, que andou me ameaçando. Mas qualquer dia vão me dizer: “você está demitida”. Na verdade, sonho com isso quase todos os dias. É como se abrissem a porta da cadeia.

5 comentários:

Anônimo disse...

É, por vezes a tão sonhada carteira de trabalho se transforma no passe para uma vida infernal, com muito abuso, muito trabalho e pouco ou nenhum reconhecimento. Fora o fato de todos os pormenores que você descreveu (não poder acessar determinados sites, ser comedido em algumas situações, enfim).
Infelizmente com o salário que se ganha, o jeito é se sujeitar a isso. Ou então, encontrar um freela, ser dono do próprio nariz (e ainda correr o risco de não receber a grana pelo trabalho feito).
Vida difícil!
Texto bem bacana, gostei!
Abs.
Samira Moratti

Lula Falcão disse...

Acho que ela não vai aguentar...
Obrigado pelo comentário, Samira.
abrs

Anônimo disse...

Realmente tem muitos (senão a maioria) trabalhos ou empregos que aprisionam e tolhem a criatividade. Qual benefício?
Como disse a Samira, texto bacana e bem bolado!

Lula Falcão disse...

Algumas empresas funcionam mesmo como prisão semi aberta. Orbrigado pelo comentário. Passei no seu blog. Bem legal.
abrs

bsetta disse...

Ah, Lula Falcão, alguém ai num comentário, não sei sobre qual post, estragou tudo! Eu aqui, toda ruivaburra, crente que vc é uma mulher assim meio menine, que COISA! Você chicobuarca tão bem que nem atinei que és um homem, meu caro. E olha que eu te leio há tempos...Adoro tudo, rio muito, me deprimo, é muito bom, tá de parabéns, beijasss

Rochelle Elstein

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