quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Solidão a dois

Doeu-me o final da apresentação, quando ela, em lágrimas, confessou o desejo de nos abandonar para sempre. Era teatro, claro, iria mesmo embora de qualquer jeito, sem alarde, mas resolveu montar seu quadro diante do público. Conosco – seus dois amantes – mantinha apenas uma relação protocolar, nos últimos meses; em casa criava conflito só para afastar o tédio. Agora estava lá, no palco, contando à plateia nossa convivência na mesma casa, os três, dois caras e uma cantora, e anunciando também o encerramento do caso.  Queria ser a primeira a deixar dois homens no mesmo momento e mesma cena, assistida por fregueses do velho clube de jazz. Os dois abandonados esperavam alguma coisa má - não nessa forma e conteúdo.

No mundo polígamo quem está em maioria nem sempre ganha, aliás, quase sempre perde. Estávamos ali para isso. Receber o que restou de cinco anos de vida a três. Ela parecia tranquila, como estivesse informando a próxima música. Tal comportamento nos deixou ainda mais desgraçados e sem forças de reação. Pensei em ficar enfurecido, mas desisti. Não havia impulso e parei na zona intermediária da decepção. Meu sócio nessa empreitada ficou assustado, sem outro sentimento classificável além do medo. 

2 comentários:

Brenda Ligia disse...

Esse escreve com a alma!

Macedo disse...

Lula, fui na Sariva, fui na Cultura, fui na Imperatriz. Em nenhuma das três encontrei seus livros: "todo dia me atiro" e "iberê".
Por gentileza, já que vc aqui (Recife) lançou -no Central- seu último, onde, em que livraria da cidade você os deixou para que a gente possa encontrá-lo para adquirí-lo?
Grato,
Macedo

Postar um comentário