domingo, 12 de setembro de 2010

Começos

@ Hoje acordei numa ressaca horrorosa e não consigo sair do primeiro parágrafo. Aliás, escrevi vários inícios para uma história que não tem meio nem fim. Travei. Vai assim mesmo.

@ Começo um. Continuo na merda desse trabalho. Mas só até tirar meu nome do SPC e do Serasa, pagar o agiota e comprar um laptop novo. O meu quebrou. Não tem conserto. A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa, depois da morte, é ficar sem computador em casa. Pense: chego do trabalho e a única coisa que me resta é dormir. Antes de dormir, claro, eu bebo. Mas o velho hábito vodka & twitter só no fim de semana, na casa do Valdeci, em Itaquera. Sim, encontrei alguém no trabalho que me entende. Valdeci, 22 anos, motoboy. Ainda bem que ele não roda no sábado. Estaria morto. Nesse dia, enchemos a cara, fumamos vários e conversamos sobre futebol. Valdeci é cheio de contradições. Corintiano e gay, quebra meu galho de vez em quando. Trepa direitinho com mulher.

@ Começo dois. Fui demitida. O chefe me chamou na sala e perguntou quando eu terminaria a planilha. Respondi: nunca. A cara dele era uma perplexidade só. Ficou procurando palavras, não achou nenhuma por perto, e resolveu sair dali direto para o departamento de pessoal. Deve ter dito: demita aquela doida. Dito e feito. Fui ao RH e me encaminharam para uma psicóloga. Ela perguntou se eu sabia a razão de estar sendo afastada do emprego. Eu disse: essa empresa é um cu, o chefe é um cu e senhora é um cu. É por isso.

@ Começo três. Mudei de emprego. Agora estou numa empresa de eventos. Não é tão escrota quanto a anterior, mas o clima é tenso. Somos encarregados de levar celebridades para festas, mas quase nunca conseguimos emplacar alguém de peso, tipo Caras, e os clientes sempre terminam insatisfeitos. “Mas cadê o Gianecchini?”, pergunta o dono da festa, meio educado, meio puto da vida. Sempre a gente responde que o cara teve um problema de última hora. Só que ninguém na empresa conseguiu entrar em contato com Gianecchini. Trouxemos a Beyoncé de Paulista, uma moça de Pernambuco que em nada deixa a dever à original, e uma ex-BBB que agora faz filme pornô. Mas, não. Eles só querem saber desse povo da Globo.

@ Começo quatro. Sai do emprego e fui morar numa comunidade do Daime, no Acre... Perai, isso é meio absurdo. O chá é bom (já tomei), mas não gosto de rituais religiosos. Sou uma drogada laica. Corta.

@ Começo cinco. Pedi demissão. Tentei uma vaga na Farm, da Vila Madalena, mas me acharam um pouco passada para o cargo de vendedora. Não disseram. Senti. Bastou olhar em volta pra meninas que trabalham lá. Com mais de 30 anos, a mulher fica num limbo nessa área do comercio varejista chique. Ou você é dona ou nada feito. Até a gerente parece com a Cléo Pires. A outra opção: garçonete. O mesmo problema. Também querem gatinhas. Além disso, muitos bares agora estão tomados por garçons tradicionais, de terno, como antigamente. Eu até gosto, como freguesa. Falar nisso, vou sentar aqui e pedir uma. O FGTS saiu e procurar emprego é tão desgastante quanto trabalhar. Joaquim, traz uma vodka. Pura.

2 comentários:

Anônimo disse...

Seria um enredo de novela, onde depois todos os começos se encontram num meio único, criando o clímax do enredo e o final ... @ tudo mesmo!

Unknown disse...

Boa idéia, Gilberto. Algo como "Amores Brutos", né?
abrs

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